Igreja
Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
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LIÇÃO
11 – A MORDOMIA DAS OBRAS DE MISERICÓRDIA - (At 4.32-35; Lc 10.30,36,37)
3º
TRIMESTRE DE 2019
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos que não somos
salvos pelas boas obras, mas as praticamos porque somos salvos (Mt 5.16);
traremos uma definição dos termos “obras” e “misericórdia”; estudaremos as
obras de misericórdia ilustradas no bom samaritano; pontuaremos a Igreja apostólica
e a prática das obras de misericórdia; notaremos as obras de misericórdia como
uma evidência da salvação; e por fim, analisaremos a responsabilidade do crente
no cuidado com os pobres e necessitados a luz da Bíblia.
I – DEFININDO OS TERMOS OBRAS E MISERICÓRDIA
1.1 - Obras. Nas
Escrituras várias são as palavras usadas traduzidas como “obra”, entre estas
uma das principais é o substantivo hebraico: “maaseh” que significa: “trabalho,
obra, ação, labor, labuta, comportamento”. A palavra obra no grego é: “ergon”
denota: “trabalho, ação, ato”. Ocorre frequentemente indicando as ações
humanas, boas ou ruins (Mt 23.3; 26.10; Jo 3.20,21; Rm 2.7,15; 1Ts 1.3; 2Ts
1.11). “Atrelada a vida cristã, obras são as evidências de uma fé viva e
eficaz, de modo que o apóstolo Tiago afirma que pelas obras, atesta-se a
qualidade da fé” (Tg 2.17,26) (ANDRADE, 2006, p. 282 – acréscimo nosso).
1.2 - Misericórdia. Esta
palavra na língua portuguesa advém do latim: “merces, mercedis”. Segundo o
dicionarista Houaiss (2001, p. 1933) misericórdia é: “o sentimento de dor e
solidariedade com relação a alguém que sofre, acompanhado do desejo ou da
disposição de ajudar essa pessoa; dó, compaixão, piedade; ato concreto de
manifestação desse sentimento, como o perdão; graça, clemência; benefício que
se presta a um sofredor”. No AT a palavra para misericórdia é: “hesed”,
ocorrendo cerca de 240 vezes, significando: “benignidade, amor firme, graça,
misericórdia, fidelidade, bondade, devoção” (Sl 23.6; Pv 19.17; 22.9; Js
2.12-14; Jr 3.13). No NT o termo correspondente é: “eleos” que quer dizer:
“manifestação exterior de piedade; presume necessidade por parte daquele que
recebe, e recursos adequados para satisfazer a necessidade por parte daquele
que a mostra” (Mt 9.13; 12.7; 23.23; Lc 10.37; Tg 2.13) (VINE, 2010, p. 793).
II - AS OBRAS DE MISERICÓRDIA ILUSTRADAS NO
BOM SAMARITANO
2.1 - As obras de misericórdia como uma ação
altruísta. Segundo o dicionário (2001, p. 171) a palavra
altruísmo, quer dizer: “sentimento de quem põe o interesse alheio acima do
próprio”, ou seja, uma pessoa altruísta está mais preocupada com o interesse do
próximo do que com o seu. O samaritano colocou sua agenda pessoal em segundo
plano para servir. Ele “[…] ia de viagem […]” (Lc 10.33), tudo ficou para trás:
viagem, negócios, perigo de assaltantes, para salvar aquele homem agonizante. A
Bíblia nos ensina sobre a lei da semeadura (Lc 6.38). O samaritano prestou um
imediato socorro emergencial aquele homem; levou-o para uma hospedaria; pagou a
conta antecipadamente; e, ofereceu mais assistência caso fosse necessária. O
altruísmo não busca os seus interesses (At 20.35; 1Co 13.4,5; Fp 2.4). A Bíblia
diz que quem despreza o seu próximo peca (Pv 14.21), e que os misericordiosos
são bem-aventurados (Mt 5.7 ver Sl 41.1; Is 58.10).
2.2 - As obras de misericórdia como uma ação
empática. Devemos exercer misericórdia com alegria, pois a
ação deve ser acompanhada da intenção, ou caso contrário, será apenas um ritual
vazio (Rm 12.8), e sem a intenção de sermos vistos (Mt 6.1-4). Um sentimento
que fica evidenciado no samaritano é a empatia, ou seja, “a ação de se colocar
no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou
agiria nas mesmas circunstâncias” (Lc 6.31). Sobre ele nos é dito: “[…]
vendo-o, moveu-se de íntima compaixão” (Lc 10.33). O samaritano não procurou
saber quem era o necessitado a sua frente, sua religião ou mesmo a sua nação;
agiu como que o que se passava fosse com ele mesmo ou um dos seus. Quando temos
este amor de Deus servimos bem a todos, servimos bem à obra do Senhor, sem
interesse em qualquer recompensa (Mt 7.12 ver ainda Lv 19.18; Mt 22.40; Rm
13.8,10). A ajuda deve ser prática, e não deve consistir simplesmente em sentir
pena da pessoa (Tg 2.14-17). É provável que o sacerdote e o levita sentiram
algum tipo de dó pelo ferido, mas não fizeram nada. A compaixão, para ser
verdadeira, deve gerar atos (1Sm 30.11-13; Tg 2.26; 1Jo 3.17,18).
2.3 - As obras de misericórdia como uma ação
imparcial. Devemos ajudar qualquer que precise, inclusive o
inimigo (Rm 12.13,14,20). Quando o doutor da Lei perguntou a Jesus: “quem é o
meu próximo” (Lc 10.29), Jesus contou-lhe então a parábola do bom samaritano,
demonstrando que o verdadeiro amor não faz acepção de pessoas (Tg 2.1,8,9);
pois, o homem que havia sido assaltado e espancado não foi ajudado pelo
sacerdote e nem pelo levita, mas, foi socorrido por um samaritano, que não
olhou para sua nacionalidade (Lc 10.25-37). Amar a Deus sobre todas as coisas e
ao próximo como a nós mesmos são os dois maiores mandamentos na Lei (Mt
22.34-40; Mc 12.28-34; Lc 10.25-27). A acepção de pessoas é uma atitude
contrária à misericórdia (At 10.4; Rm 2.11; Ef 6.9; Tg 2.9), por isso, devemos
amar a todos (Gl 6.10; 1Ts 3.12), inclusive nossos inimigos (Mt 5.44; Lc
6.27,35). “O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o
amor” (Rm 13.10). O necessitado é nosso próximo, e nossa ajuda deve ser como o
amor de Deus (Jo 3.16).
III - A IGREJA APOSTÓLICA E A PRÁTICA DAS
OBRAS DE MISERICÓRDIA
3.1 - A Igreja primitiva como modelo das boas
obras. Na
Igreja Primitiva, era comum, não só a pregação do Evangelho, mas também a
prática de ajudar aos pobres em suas necessidades (At 2.43-46; 4.34-37). Foram
escolhidos sete homens cheios do Espírito Santo e de sabedoria para executar esta
importante tarefa (At 6.1-6). Diversas vezes houve coletas entre os irmãos com
o objetivo de socorrer aos santos que estavam enfrentando dificuldades (Rm
15.25-27; 1Co 16.1-4; 2Co 8; 9; Fp 4.18,19). Paulo e Barnabé, representando a
igreja em Antioquia da Síria, levaram a Jerusalém uma oferta aos irmãos
carentes da Judeia (At 11.28-30). Paulo afirma que recebeu recomendações de
Tiago, Cefas e João, “as colunas”, para que se lembrassem dos pobres, e ele
mesmo diz que procurou fazer com diligência (Gl 2.10). Diversas vezes, ele
dedicou-se a recolher ajuda para os pobres da igreja de Jerusalém (Rm 15.25,26;
1Co 16.1-4; 2Co 8.1-4). Um dos objetivos da terceira viagem missionária de
Paulo foi coletar dinheiro para os pobres (Rm 15.26). Em suas epístolas, Paulo ensinava
a igreja sobre o dever de contribuir (1Co 16.1-4), bem como elogiava as igrejas
que contribuíam (2Co 8.1-4; 9.2). Paulo descreve diversos dons, inclusive o de
repartir (Rm 12.6-8).
IV - AS OBRAS DE MISERICÓRDIA COMO EVIDÊNCIA
DA SALVAÇÃO
O livro de Tiago nos fala da fé e das
obras (Tg 2.14-26). Ele diz que Abraão foi justificado pelas obras (Tg 2.21),
ao passo que Paulo ensina que ele foi justificado pela fé (Rm 4.9-b). Alguns
estudiosos creem que Tiago estivesse refutando Paulo o que não é verdade;
apenas ambos os apóstolos estão tratando da mesma doutrina sob aspectos
diferentes. A abordagem de Paulo se dá no sentido vertical (diante de Deus)
onde o homem é inocentado por fé e não por obras (Rm 5.1). Já o ponto de vista
de Tiago se dá no sentido horizontal (diante dos homens), visto que as obras
que o salvo pratica são um claro testemunho diante dos homens de sua real
transformação (Mt 5.16). Notemos que ambos pontos de vista se harmonizam:
4.1 - As obras de misericórdia na perspectiva
de Paulo. Paulo ensinou que o homem é “justificado pela fé
independente das obras” (Rm 3.28; 5.1; Gl 2.16). Embora o apóstolo enfatizasse
a fé como base para justificação, ele não está menosprezando as obras que
evidenciam a salvação (Fp 2.12,13). Logo, fica claro que, embora tais obras em
nada contribuíssem para a justificação de uma pessoa diante de Deus (Rm 3.28;
Ef 2.8,9), a verdadeira fé opera pelo amor resultando em boas obras (Gl 5.6; Ef
2.10). Certos grupos libertinos que vieram depois de Paulo, levaram seus ensinamentos
ao extremo. Estes afirmavam que, desde que uma pessoa tivesse fé em Cristo não
importaria se os atos dela fossem bons ou maus (Rm 6.1,2).
4.2 - As obras de misericórdia na perspectiva
de Tiago. Tiago ensinou que o homem é justificado “pelas
obras e não somente pela fé” (Tg 2.24). O apóstolo está ensinando que embora a
pessoa seja salva pela fé somente, a fé que salva redunda na prática das boas
obras (Tg 2.22-26). Tiago declara que a “fé sem obras é morta” (Tg 2.14-16). A
fé, para a salvação, é uma fé tão vital que deve ser evidenciada diante dos
homens, em amor e obediência para com o Salvador e no serviço ao próximo (Tg
1.27; 2.1-9; 14-20). Tiago continua comentando sobre este assunto ao dizer: “A
religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as
viúvas nas suas tribulações...” (Tg 1.27-a). O cuidado pelos órfãos e as viúvas
é uma ordem do AT como uma forma de imitar o cuidado do próprio Deus com estas
pessoas, “pois ele é o pai dos órfãos e defensor das viúvas” (Sl 68.5; Is
1.10-17). Jesus condenou os escribas e fariseus que exploravam financeiramente
as viúvas (Mt 23.14; Lc 20.47). Devemos honrar e cuidar das verdadeiras viúvas
(1Tm 5.3; At 6.1; Tg 1.27).
V - A RESPONSABILIDADE DO CRENTE NO CUIDADO
COM OS POBRES E NECESSITADOS
Do ponto de vista de Tiago o
cristianismo autêntico é aquele que se mostra, na prática, pela perseverança
nas tribulações (Tg 1.3-20), pela obediência a Palavra em vez de meramente
ouvir (Tg 1.21-25), pelo controle da língua (Tg 1.26), pelo amor a Deus e ao
próximo (Tg 1.27), pelo exercício da misericórdia para com todos, especialmente
para com os necessitados (Tg 2.1-13). O fato do apóstolo mencionar como
ilustração desse assunto o despedir somente com palavras as pessoas carentes de
vestes e comida, indica claramente que, ele ainda não terminou de lidar com a
questão do desprezo pelos pobres (Tg 2.15,16). Quanto a prática da benevolência
com os carentes, Tiago deu as seguintes exortações:
5.1 - Exortação a assistência aos órfãos e
viúvas (Tg 1.27). Nos dias do NT, os órfãos e as viúvas tinham
poucos meios de autossustento; em muitos casos, não tinham ninguém para cuidar
deles. Esperava-se da parte dos crentes que lhes demonstrassem o devido
cuidado. Devemos procurar aliviar suas aflições e sofrimentos (Lc 7.13; Gl
6.10). “O termo visitar usado pelo apóstolo em Tiago 1.27 no grego
‘episkeptomai’ indica mais que uma mera visita. Também indica a manifestação de
simpatia e as dádivas para aliviar as necessidades” (CHAMPLIN, 2005, p. 33).
5.2 - Exortação a caridade para com os
pobres (Tg 2.15-17). Nos referidos versículos Tiago cita agora
um outro exemplo: o “mal vestido e o faminto” que provavelmente alude a um
irmão ou irmã, isto é, um membro da comunidade cristã que também pode passar
por privações, mas que aquele que diz que “crê em Deus” deve socorrer estes
irmãos necessitados não apenas orando por eles, mas agindo suprindo-lhes as
devidas necessidades (Tg 2.15,16). Do contrário a fé que professa é inoperante
e morta (Tg 2.19,20).
5.3 - Exortação a prática da
hospitalidade (Tg 2.25,26). Quando Tiago cita o exemplo de
Raabe, a mulher prostituta de Jericó que acolheu em paz os espias, porque creu
no Deus de Israel (Js 2.11). O apóstolo Tiago e o escritor aos hebreus citam-na
como um exemplo de hospitalidade (Tg 2.25; Hb 11.31). Houaiss diz que a palavra
hospitaleiro “é a pessoa que dá hospedagem por bondade ou caridade”. O escritor
estimula os cristãos a serem hospitaleiros sob a advertência de que “por ela
alguns, não o sabendo, hospedaram anjos” (Hb 13.2 ver também Rm 12.13; 1Tm
5.10; Tt 1.7,8).
CONCLUSÃO
Deus usou de misericórdia conosco, por
isso, devemos usar de misericórdia com o próximo. Uma das características
marcantes da Igreja Primitiva era o seu altruísmo. Fazer obras de misericórdias
era um mandamento levado a sério pela igreja As obras de misericórdia, ou obras
de caridade, nos mostra a disponibilidade de desprendermo-nos do egoísmo e
servir o próximo deliberadamente.
REFERÊNCIAS
COELHO, A; DANIEL, S. Fé e Obras:
Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. CPAD.
BARCLAY, W. Comentário Biblico de
Tiago. PDF
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo
Pentecostal. CPAD.
HARPER, A. F. Comentário Bíblico
Beacon. Tiago. Vol. 10. CPAD.
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