quarta-feira, 11 de setembro de 2019

LIÇÃO 11 – A MORDOMIA DAS OBRAS DE MISERICÓRDIA - (At 4.32-35; Lc 10.30,36,37) 3º TRIMESTRE DE 2019

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LIÇÃO 11 – A MORDOMIA DAS OBRAS DE MISERICÓRDIA - (At 4.32-35; Lc 10.30,36,37)
3º TRIMESTRE DE 2019

INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos que não somos salvos pelas boas obras, mas as praticamos porque somos salvos (Mt 5.16); traremos uma definição dos termos “obras” e “misericórdia”; estudaremos as obras de misericórdia ilustradas no bom samaritano; pontuaremos a Igreja apostólica e a prática das obras de misericórdia; notaremos as obras de misericórdia como uma evidência da salvação; e por fim, analisaremos a responsabilidade do crente no cuidado com os pobres e necessitados a luz da Bíblia.

I – DEFININDO OS TERMOS OBRAS E MISERICÓRDIA
1.1 - Obras. Nas Escrituras várias são as palavras usadas traduzidas como “obra”, entre estas uma das principais é o substantivo hebraico: “maaseh” que significa: “trabalho, obra, ação, labor, labuta, comportamento”. A palavra obra no grego é: “ergon” denota: “trabalho, ação, ato”. Ocorre frequentemente indicando as ações humanas, boas ou ruins (Mt 23.3; 26.10; Jo 3.20,21; Rm 2.7,15; 1Ts 1.3; 2Ts 1.11). “Atrelada a vida cristã, obras são as evidências de uma fé viva e eficaz, de modo que o apóstolo Tiago afirma que pelas obras, atesta-se a qualidade da fé” (Tg 2.17,26) (ANDRADE, 2006, p. 282 – acréscimo nosso).

1.2 - Misericórdia. Esta palavra na língua portuguesa advém do latim: “merces, mercedis”. Segundo o dicionarista Houaiss (2001, p. 1933) misericórdia é: “o sentimento de dor e solidariedade com relação a alguém que sofre, acompanhado do desejo ou da disposição de ajudar essa pessoa; dó, compaixão, piedade; ato concreto de manifestação desse sentimento, como o perdão; graça, clemência; benefício que se presta a um sofredor”. No AT a palavra para misericórdia é: “hesed”, ocorrendo cerca de 240 vezes, significando: “benignidade, amor firme, graça, misericórdia, fidelidade, bondade, devoção” (Sl 23.6; Pv 19.17; 22.9; Js 2.12-14; Jr 3.13). No NT o termo correspondente é: “eleos” que quer dizer: “manifestação exterior de piedade; presume necessidade por parte daquele que recebe, e recursos adequados para satisfazer a necessidade por parte daquele que a mostra” (Mt 9.13; 12.7; 23.23; Lc 10.37; Tg 2.13) (VINE, 2010, p. 793).

II - AS OBRAS DE MISERICÓRDIA ILUSTRADAS NO BOM SAMARITANO
2.1 - As obras de misericórdia como uma ação altruísta. Segundo o dicionário (2001, p. 171) a palavra altruísmo, quer dizer: “sentimento de quem põe o interesse alheio acima do próprio”, ou seja, uma pessoa altruísta está mais preocupada com o interesse do próximo do que com o seu. O samaritano colocou sua agenda pessoal em segundo plano para servir. Ele “[…] ia de viagem […]” (Lc 10.33), tudo ficou para trás: viagem, negócios, perigo de assaltantes, para salvar aquele homem agonizante. A Bíblia nos ensina sobre a lei da semeadura (Lc 6.38). O samaritano prestou um imediato socorro emergencial aquele homem; levou-o para uma hospedaria; pagou a conta antecipadamente; e, ofereceu mais assistência caso fosse necessária. O altruísmo não busca os seus interesses (At 20.35; 1Co 13.4,5; Fp 2.4). A Bíblia diz que quem despreza o seu próximo peca (Pv 14.21), e que os misericordiosos são bem-aventurados (Mt 5.7 ver Sl 41.1; Is 58.10).

2.2 - As obras de misericórdia como uma ação empática. Devemos exercer misericórdia com alegria, pois a ação deve ser acompanhada da intenção, ou caso contrário, será apenas um ritual vazio (Rm 12.8), e sem a intenção de sermos vistos (Mt 6.1-4). Um sentimento que fica evidenciado no samaritano é a empatia, ou seja, “a ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias” (Lc 6.31). Sobre ele nos é dito: “[…] vendo-o, moveu-se de íntima compaixão” (Lc 10.33). O samaritano não procurou saber quem era o necessitado a sua frente, sua religião ou mesmo a sua nação; agiu como que o que se passava fosse com ele mesmo ou um dos seus. Quando temos este amor de Deus servimos bem a todos, servimos bem à obra do Senhor, sem interesse em qualquer recompensa (Mt 7.12 ver ainda Lv 19.18; Mt 22.40; Rm 13.8,10). A ajuda deve ser prática, e não deve consistir simplesmente em sentir pena da pessoa (Tg 2.14-17). É provável que o sacerdote e o levita sentiram algum tipo de dó pelo ferido, mas não fizeram nada. A compaixão, para ser verdadeira, deve gerar atos (1Sm 30.11-13; Tg 2.26; 1Jo 3.17,18).

2.3 - As obras de misericórdia como uma ação imparcial. Devemos ajudar qualquer que precise, inclusive o inimigo (Rm 12.13,14,20). Quando o doutor da Lei perguntou a Jesus: “quem é o meu próximo” (Lc 10.29), Jesus contou-lhe então a parábola do bom samaritano, demonstrando que o verdadeiro amor não faz acepção de pessoas (Tg 2.1,8,9); pois, o homem que havia sido assaltado e espancado não foi ajudado pelo sacerdote e nem pelo levita, mas, foi socorrido por um samaritano, que não olhou para sua nacionalidade (Lc 10.25-37). Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos são os dois maiores mandamentos na Lei (Mt 22.34-40; Mc 12.28-34; Lc 10.25-27). A acepção de pessoas é uma atitude contrária à misericórdia (At 10.4; Rm 2.11; Ef 6.9; Tg 2.9), por isso, devemos amar a todos (Gl 6.10; 1Ts 3.12), inclusive nossos inimigos (Mt 5.44; Lc 6.27,35). “O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.10). O necessitado é nosso próximo, e nossa ajuda deve ser como o amor de Deus (Jo 3.16).

III - A IGREJA APOSTÓLICA E A PRÁTICA DAS OBRAS DE MISERICÓRDIA
3.1 - A Igreja primitiva como modelo das boas obras. Na Igreja Primitiva, era comum, não só a pregação do Evangelho, mas também a prática de ajudar aos pobres em suas necessidades (At 2.43-46; 4.34-37). Foram escolhidos sete homens cheios do Espírito Santo e de sabedoria para executar esta importante tarefa (At 6.1-6). Diversas vezes houve coletas entre os irmãos com o objetivo de socorrer aos santos que estavam enfrentando dificuldades (Rm 15.25-27; 1Co 16.1-4; 2Co 8; 9; Fp 4.18,19). Paulo e Barnabé, representando a igreja em Antioquia da Síria, levaram a Jerusalém uma oferta aos irmãos carentes da Judeia (At 11.28-30). Paulo afirma que recebeu recomendações de Tiago, Cefas e João, “as colunas”, para que se lembrassem dos pobres, e ele mesmo diz que procurou fazer com diligência (Gl 2.10). Diversas vezes, ele dedicou-se a recolher ajuda para os pobres da igreja de Jerusalém (Rm 15.25,26; 1Co 16.1-4; 2Co 8.1-4). Um dos objetivos da terceira viagem missionária de Paulo foi coletar dinheiro para os pobres (Rm 15.26). Em suas epístolas, Paulo ensinava a igreja sobre o dever de contribuir (1Co 16.1-4), bem como elogiava as igrejas que contribuíam (2Co 8.1-4; 9.2). Paulo descreve diversos dons, inclusive o de repartir (Rm 12.6-8).

IV - AS OBRAS DE MISERICÓRDIA COMO EVIDÊNCIA DA SALVAÇÃO
O livro de Tiago nos fala da fé e das obras (Tg 2.14-26). Ele diz que Abraão foi justificado pelas obras (Tg 2.21), ao passo que Paulo ensina que ele foi justificado pela fé (Rm 4.9-b). Alguns estudiosos creem que Tiago estivesse refutando Paulo o que não é verdade; apenas ambos os apóstolos estão tratando da mesma doutrina sob aspectos diferentes. A abordagem de Paulo se dá no sentido vertical (diante de Deus) onde o homem é inocentado por fé e não por obras (Rm 5.1). Já o ponto de vista de Tiago se dá no sentido horizontal (diante dos homens), visto que as obras que o salvo pratica são um claro testemunho diante dos homens de sua real transformação (Mt 5.16). Notemos que ambos pontos de vista se harmonizam:

4.1 - As obras de misericórdia na perspectiva de Paulo. Paulo ensinou que o homem é “justificado pela fé independente das obras” (Rm 3.28; 5.1; Gl 2.16). Embora o apóstolo enfatizasse a fé como base para justificação, ele não está menosprezando as obras que evidenciam a salvação (Fp 2.12,13). Logo, fica claro que, embora tais obras em nada contribuíssem para a justificação de uma pessoa diante de Deus (Rm 3.28; Ef 2.8,9), a verdadeira fé opera pelo amor resultando em boas obras (Gl 5.6; Ef 2.10). Certos grupos libertinos que vieram depois de Paulo, levaram seus ensinamentos ao extremo. Estes afirmavam que, desde que uma pessoa tivesse fé em Cristo não importaria se os atos dela fossem bons ou maus (Rm 6.1,2).

4.2 - As obras de misericórdia na perspectiva de Tiago. Tiago ensinou que o homem é justificado “pelas obras e não somente pela fé” (Tg 2.24). O apóstolo está ensinando que embora a pessoa seja salva pela fé somente, a fé que salva redunda na prática das boas obras (Tg 2.22-26). Tiago declara que a “fé sem obras é morta” (Tg 2.14-16). A fé, para a salvação, é uma fé tão vital que deve ser evidenciada diante dos homens, em amor e obediência para com o Salvador e no serviço ao próximo (Tg 1.27; 2.1-9; 14-20). Tiago continua comentando sobre este assunto ao dizer: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações...” (Tg 1.27-a). O cuidado pelos órfãos e as viúvas é uma ordem do AT como uma forma de imitar o cuidado do próprio Deus com estas pessoas, “pois ele é o pai dos órfãos e defensor das viúvas” (Sl 68.5; Is 1.10-17). Jesus condenou os escribas e fariseus que exploravam financeiramente as viúvas (Mt 23.14; Lc 20.47). Devemos honrar e cuidar das verdadeiras viúvas (1Tm 5.3; At 6.1; Tg 1.27).

V - A RESPONSABILIDADE DO CRENTE NO CUIDADO COM OS POBRES E NECESSITADOS
Do ponto de vista de Tiago o cristianismo autêntico é aquele que se mostra, na prática, pela perseverança nas tribulações (Tg 1.3-20), pela obediência a Palavra em vez de meramente ouvir (Tg 1.21-25), pelo controle da língua (Tg 1.26), pelo amor a Deus e ao próximo (Tg 1.27), pelo exercício da misericórdia para com todos, especialmente para com os necessitados (Tg 2.1-13). O fato do apóstolo mencionar como ilustração desse assunto o despedir somente com palavras as pessoas carentes de vestes e comida, indica claramente que, ele ainda não terminou de lidar com a questão do desprezo pelos pobres (Tg 2.15,16). Quanto a prática da benevolência com os carentes, Tiago deu as seguintes exortações:

5.1 - Exortação a assistência aos órfãos e viúvas (Tg 1.27). Nos dias do NT, os órfãos e as viúvas tinham poucos meios de autossustento; em muitos casos, não tinham ninguém para cuidar deles. Esperava-se da parte dos crentes que lhes demonstrassem o devido cuidado. Devemos procurar aliviar suas aflições e sofrimentos (Lc 7.13; Gl 6.10). “O termo visitar usado pelo apóstolo em Tiago 1.27 no grego ‘episkeptomai’ indica mais que uma mera visita. Também indica a manifestação de simpatia e as dádivas para aliviar as necessidades” (CHAMPLIN, 2005, p. 33).

5.2 - Exortação a caridade para com os pobres (Tg 2.15-17). Nos referidos versículos Tiago cita agora um outro exemplo: o “mal vestido e o faminto” que provavelmente alude a um irmão ou irmã, isto é, um membro da comunidade cristã que também pode passar por privações, mas que aquele que diz que “crê em Deus” deve socorrer estes irmãos necessitados não apenas orando por eles, mas agindo suprindo-lhes as devidas necessidades (Tg 2.15,16). Do contrário a fé que professa é inoperante e morta (Tg 2.19,20).

5.3 - Exortação a prática da hospitalidade (Tg 2.25,26). Quando Tiago cita o exemplo de Raabe, a mulher prostituta de Jericó que acolheu em paz os espias, porque creu no Deus de Israel (Js 2.11). O apóstolo Tiago e o escritor aos hebreus citam-na como um exemplo de hospitalidade (Tg 2.25; Hb 11.31). Houaiss diz que a palavra hospitaleiro “é a pessoa que dá hospedagem por bondade ou caridade”. O escritor estimula os cristãos a serem hospitaleiros sob a advertência de que “por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos” (Hb 13.2 ver também Rm 12.13; 1Tm 5.10; Tt 1.7,8).

CONCLUSÃO
Deus usou de misericórdia conosco, por isso, devemos usar de misericórdia com o próximo. Uma das características marcantes da Igreja Primitiva era o seu altruísmo. Fazer obras de misericórdias era um mandamento levado a sério pela igreja As obras de misericórdia, ou obras de caridade, nos mostra a disponibilidade de desprendermo-nos do egoísmo e servir o próximo deliberadamente.

REFERÊNCIAS
COELHO, A; DANIEL, S. Fé e Obras: Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. CPAD.
BARCLAY, W. Comentário Biblico de Tiago. PDF
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
HARPER, A. F. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Vol. 10. CPAD.


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