segunda-feira, 26 de novembro de 2018

LIÇÃO 09 – O PERIGO DA INDIFERENÇA ESPIRITUAL - (Mt 21.28-32) 4º TRIMESTRE DE 2018


Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais
Pastor Presidente: Aílton José Alves
Av. Cruz Cabugá, 29 - Santo Amaro - Recife-PE / CEP. 50.040.000 Fone: 3084.1524 / 3084.1543

LIÇÃO 09 – O PERIGO DA INDIFERENÇA ESPIRITUAL - (Mt 21.28-32)
4º TRIMESTRE DE 2018

INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos o contexto e o objetivo que o Mestre amado contou esta parábola; pontuaremos seus personagens e quem eles representam; analisaremos qual o contraste entre os dois filhos; e por fim, estudaremos o que Jesus quis ensinar com esta parábola.

I - UMA PARÁBOLA DISTINTA
Em Mateus 21.28-32 encontramos a “parábola dos dois filhos”. Esta parábola possui as seguintes características:

(a) Ela consta somente no evangelho conforme Mateus;
(b) têm apenas três versículos;
(c) foi pronunciada na última visita de Cristo a Jerusalém, antes de Sua morte; e,
(d) tem o intuito de enfatizar que Deus chama a todos os homens para a salvação, no entanto, cabe aos homens aceitarem tal chamado (Mt 21.32).

Vejamos algumas outras informações sobre esta parábola:
1.1 - Contexto. Em Mateus 21 encontramos o registro da entrada triunfal de Jesus sobre um jumentinho, na famosa cidade de Jerusalém, para cumprir o que dele estava escrito (Zc 9.9; Mt 21.4,5). A multidão louvou ao Mestre trazendo consigo ramos de árvores que espalhavam pelo chão junto com as suas próprias vestes e diziam: “[…] Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!” (Mt 21.9-b). Esta parábola está estreitamente conectada com o relato imediatamente precedente em relação a atitude das autoridades para com João Batista (Mt 21.23-27). Jesus questionou porque eles não reagiram a mensagem de arrependimento pregada pelo profeta (Mt 21.32).

1.2 - Objetivo. O principal objetivo da parábola é mostrar como os publicanos e as meretrizes, que não professavam crê no Messias e do Seu reino, ainda assim aceitavam a doutrina e se sujeitavam à disciplina de João Batista, o precursor de Jesus (Mt 3.5,6), ao passo que os sacerdotes e os anciãos, que estavam cheios de expectativas do Messias, e pareciam muito dispostos a estar de acordo com o que Ele determinava, desprezaram João Batista, e foram contrários aos desígnios da missão de Jesus (Mt 3.7-10; 21.32; Mc 1.5). A parábola tem um outro alcance; os gentios, que eram desobedientes, tendo sido, por muito tempo, filhos da ira (Ef 2.3); porém, quando o Evangelho lhes foi pregado, eles se tornaram obedientes à fé, enquanto os judeus, que diziam: “eu vou, Senhor”, faziam boas promessas (Êx 24.7; Js 24.24), mas não iam; eles somente “lisonjeavam a Deus com os seus lábios” (Sl 78.36,37).

II - OS PERSONAGENS DA PARÁBOLA
2.1 - O Pai (Mt 21.28). O pai desta parábola é uma representação perfeita da pessoa de Deus como nosso amado Pai (Sl 103.13; Ef 1.5; Gl 4.4,5; Rm 8.15-17; Jo 1.12; 2 Co 6. 18; Rm 8.15; 23; Gl 4.6; Hb 12.6; Hb 6.12; 1Pe 1.3,4; Hb 1.14). O status de filhos traz-nos privilégios como:

(a) tratar a Deus como Pai nas nossas orações: “Pai nosso, que estás nos céus […]” (Mt 6.9);
(b) ter o testemunho do Espírito acerca da nossa salvação, o qual clama “Aba, Pai” (Rm 8.15,16); e,
(c) sermos amados por ele: “Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus […]” (1Jo 3.1); “Amados, agora somos filhos de Deus…” (1Jo 3.2).

2.2 - O primeiro filho (Mt 21.28,29). Os publicanos e as meretrizes de quem se esperava pouca religiosidade são representados pelo primeiro filho na parábola (Mt 21.31,32). Eles não prometiam nenhum bem, e aqueles que os conheciam não esperavam deles nada de bom; ainda assim, muitos deles foram transformados: “Mas, depois, arrependendo-se, foi” (Mt 21.29-b ver ainda Lc 7.29,30). Estes impuros representavam também o mundo gentílico; pois, os judeus, em geral, classificavam os publicanos junto com os pagãos; e os pagãos eram representados, pelos judeus, como meretrizes, e homens nascidos de prostituição (Jo 8.41).

2.3 - O segundo filho (Mt 21.30). O segundo filho é representado por muitos da nação judaica quando ao ser proclamada a Lei no monte Sinai, pela voz de Deus, se comprometeu a obedecer e disseram: “Tudo o que o Senhor tem falado faremos […]”, porém não fizeram (Êx 19.8; 24.3,7; Dt 5.27). Eles faziam uma profissão especial da religião; ainda assim, quando o reino do Messias lhes foi trazido, pelo batismo de João, eles o desprezaram (Mt 3.7-10), deram-lhe as costas e lhe rejeitaram (Jo 1.11; Lc 19.14; At 13.46). Por causa do seu orgulho, eles não procuravam seguir a Deus e a Cristo. Por isso, o filho que disse: “Eu vou, senhor”, e não foi, revelou perfeitamente o caráter dos judeus fariseus (Lv 26.41; Dt 10.16; Jr 4.4; 6.10; Ez 44.9; At 7.51; Hb 4.7).

III - CONTRASTES ENTRE OS DOIS FILHOS
É digno de nota, nesse contexto, que esses publicanos e prostitutas arrependidos haviam dito: “não queremos”, mas depois se arrependeram, e então creram. Ao contrário, os líderes religiosos dos judeus, homens considerados como bem familiarizados com a Lei de Deus e que exteriormente se conduziam de uma forma tal como se estivessem dizendo constantemente: “sim, Senhor, fazemos tudo quanto requeres de nós, e faremos tudo quanto queres que façamos”, porém não faziam. Era acerca deles que Jesus declararia: “Dizem sim, e não fazem” (Mt 23.3 ver Êx 19.8; 32.1; Is 29.13). Notemos então alguns aspectos representados por estes dois filhos. Vejamos:

O PRIMEIRO FILHO
Foi convocado pelo pai para trabalhar (Mt 21.28)
Disse ao pai que não ia, mas foi (Mt 21.29)
Mostrou-se rude, mas foi sincero (Mt 21.29-b)
Mostrou arrependimento (Mt 21.29-c)

O SEGUNDO FILHO
Foi convocado pelo pai para trabalhar (Mt 21.30-a)
Disse ao pai que ia, mas não foi (Mt 21.30-b)
Mostrou-se flexível, mas foi falso (Mt 21.30-b)
Não mostrou arrependimento (Mt 21.32)

IV - O QUE JESUS QUIS ENSINAR COM ESTA PARÁBOLA
4.1 Dizer “não” e viver o “sim” é uma prova de arrependimento (Mt 21.29). Quanto ao primeiro filho as suas ações foram melhores que as suas palavras, e o seu final, melhor que o seu começo. Vemos aqui a feliz mudança de ideia, e da conduta do primeiro filho, depois de pensar um pouco: “Mas, depois, arrependendo-se, foi”. Observemos que há muitas pessoas que no início dizem “não”, são teimosas, e pouco promissoras, mas que posteriormente se arrependem e se corrigem, “e caem em si” (Lc 15.15.17), como diz o provérbio popular: “Antes tarde do que nunca”. Observemos que quando ele se arrependeu, ele foi; este é um “fruto digno de arrependimento” (Mt 3.8). A única evidência do arrependimento da nossa resistência anterior é concordar imediatamente e partir para o contrário; e então, o que passou será perdoado, e tudo ficará bem. Aquele que disse ao seu pai, face a face, que “não faria o que ele lhe pedia”, merecia ser atirado para fora de casa e deserdado; mas o nosso Pai “espera para ter misericórdia”, e, apesar das nossas antigas tolices, se nos arrependermos e nos corrigirmos, Ele irá nos aceitar de uma forma bastante favorável (Pv 28.13). É muito melhor lidar com alguém que, na prática, será melhor que a sua palavra, do que com alguém que não será capaz de cumprir o que prometeu.

4.2 - Dizer “sim” e viver o “não” é uma prova de hipocrisia (Mt 21.30). É impressionante a quantidade de pessoas que dizem “sim” e vive o “não” (Tt 1.16). Existe uma abissal distância entre o discurso e a prática: “Não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam” (Mt 23.3). O segundo filho mencionado disse melhor do que fez, prometeu ser melhor do que provou ser; a sua resposta foi boa, mas as suas ações, más. Ele professou uma obediência imediata: “eu vou”; ele não disse: “eu irei daqui a pouco”, mas infelizmente ele ficou apenas na teoria e não partiu para prática. Existem muitos que proferem boas palavras, e fazem boas promessas, que se originam de boas motivações; porém, ficam apenas nisso, não vão mais além. Dizer e fazer são duas coisas diametralmente diferentes e distintas, e há muitos que dizem e nunca fazem o que prometem (Is 29.13; Ez 33.31). Muitos, com a sua boca, até confessam, mas os seus corações vão em outra direção (Mt 15.8; Mc 7.6). A prova de sinceridade não está nas palavras, mas nos atos (Mt 7.21). As palavras não são de valor algum se não forem acompanhadas de atos equivalentes: “Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes” (Jo 13.17). Existe uma diferença categórica entre arrependimento (2Co 7.9), e remorso como no caso de Judas (Mt 27.3).

4.3 - O “sim” e o “não” é uma prova do nosso caráter. O tempo vai dizer quem é quem e revelará se o que dissemos condiz com o que somos. Às vezes o “não” honesto hoje pode colocar o homem em uma posição de reflexão, de arrependimento e mais tarde gerar mudanças movendo-o a prática de atitudes coerente com o “sim”. O verdadeiro “sim” é aquele marcado pela consciência profunda do pecado, arrependimento e conversão (Mt 21.31-32). Os publicanos e as meretrizes eram os que inicialmente haviam virado as costas para Deus, mas se arrependeram e creram; ao passo que os judeus fariseus que haviam pretensamente crido, no fundo endureceram o coração e rejeitaram a oferta do Evangelho. Intenções precisam ser acompanhadas por ações, pois a fé sem obras é morta (Tg 2.26), e o arrependimento sem frutos não agrada a Deus (Mt 3.8).

4.4 - O “sim” e o “não” é uma questão de livre-arbítrio. Na história, os dois filhos mudaram de ideia, um para pior e outro para melhor. O pecador pode se arrepender e ser perdoado, e o justo pode se desviar e ser condenado (Ez 18.21-24). Por isso, é imprescindível permanecer firmes até ao fim (Hb 3.12-13; 4.11). O chamado do Evangelho é, na realidade, o mesmo para todos, e nos é transmitido com o mesmo teor. Na parábola, o pai falou a mesma coisa para os dois filhos e sua vontade para os dois foi a mesma. Deus deseja a salvação de todos (1Tm 2.3-4). Como cada filho na parábola tomou sua própria decisão, nós decidimos obedecer a Deus ou não. Os dois filhos receberam a mesma oportunidade: “[…] Filho, vai trabalhar […] E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo” (Mt 21.28,29). Jesus não lhes disse: “vós não podeis entrar no reino do céu”; porém, mostrou que eles mesmos criavam o obstáculo que lhes embargava a entrada (Mt 23.37-38). A porta ainda estava aberta para esses guias judeus; o convite ainda era mantido.

CONCLUSÃO
Reino de Deus é formado por pessoas que vão além das palavras, que entenderam seu pecado, sua inadequação, arrependeram-se e se colocaram na direção do caminho correto. De pessoas que aprenderam que o “não” não é o melhor caminho e se prontificaram a viver o “sim”. Gente que aprendeu que o que agrada a Deus de verdade é vida e não discurso; é ação e não promessas; é verdade prática e não mentira poética: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a Sua obra” (Jo 4.34), assim devemos servir ao Senhor.

REFERÊNCIAS
GILBERTO, Antônio. Lições Bíblicas Maturidade Cristã. CPAD
HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
LOCKYER, Herbert. Todas as Parábolas da Bíblia. VIDA
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Novo Testamento. GEOGRÁFICA.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

LIÇÃO 08 – ENCONTRANDO O NOSSO PRÓXIMO – (Lc 10.25-37) 4º TRIMESTRE DE 2018


Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais
Pastor Presidente: Aílton José Alves
Av. Cruz Cabugá, 29 – Santo Amaro – Recife-PE / CEP. 50.040.000 Fone: 3084.1524 / 3084.1543

LIÇÃO 08 – ENCONTRANDO O NOSSO PRÓXIMO – (Lc 10.25-37)
4º TRIMESTRE DE 2018

INTRODUÇÃO
Nesta lição será abordada uma das mais conhecidas parábolas contadas por Jesus: “a parábola do bom samaritano”; veremos algumas considerações importantes para a compreensão da mensagem central desta narrativa; pontuaremos também alguns aspectos do amor verdadeiro, ilustrados na atitude do samaritano; e por fim, destacaremos o que a Bíblia diz sobre o amor ao próximo.

I – CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO
A parábola do bom samaritano é mais uma das narrativas do Senhor Jesus, encontrada apenas no registro do evangelista Lucas. Embora exista uma passagem semelhante (Mt 22.34-40; Mc 12.28-31), porém, há diferenças, notavelmente na cronologia e no fato de que nos demais o resumo é dado por Jesus, mas aqui na passagem em apreço pelo intérprete da lei. Notemos ainda outras informações:

1.1 - A motivação do anúncio da parábola. Enquanto Jesus ensinava, levantou-se um doutor da lei, fazendo uma pergunta cujo propósito era colocar o Senhor à prova, ou seja, em uma situação embaraçosa: “[…] um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Lc 10.25); isto quer dizer que sua pergunta não foi feita sinceramente mas, para fazer com que Jesus não conseguisse responder à altura, e que tivesse uma oportunidade de se colocar em superioridade. Para corrigir tal atitude bem como mostrar, qual deve ser a conduta dos seus seguidores, a saber, fazer o bem a todas as pessoas, o Mestre conta esta famosa parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37).

1.2 - Personagens principais. Nesta parábola alguns personagens são mencionados especificamente. Vejamos:

1.2.1 - Um homem que descia de Jerusalém para Jericó (Lc 10.30). Jericó estava situada a cerca de vinte e sete quilômetros a noroeste de Jerusalém, estando a cerca de mil metros abaixo desta cidade, de modo que em uma viagem como a deste homem seria necessário enfrentar uma descida bastante íngreme. Era um caminho que corria entre desfiladeiros rochosos com curvas imprevistas que o faziam um lugar ideal para os salteadores (BARCLAY, sd, p.120 – acréscimo nosso). Sobre o homem ferido não se tem qualquer informação, além dos acontecimentos de sua jornada. Seu nome não é informado, nem mesmo a sua raça é declarada: “[…] descia um certo homem de Jerusalém para Jericó” (Lc 10.30-a). No entanto, a implicação da história é que ele era judeu, visto que, grande parte da essência e da força da história dependem deste fato. Embora tenha uma atenção especial no texto, ele não é a figura central, de modo que ele faz simplesmente o papel do próximo.

1.2.2 - Um sacerdote (Lc 10.31). Um grande número de sacerdotes viviam em Jericó e subiam até Jerusalém quando chegava o seu período de servir no Templo. Este sacerdote, em particular, poderia vir, do Templo ao término do seu período de uma semana de serviços. Sendo assim, ele provavelmente passou para o outro lado da estrada para evitar a profanação cerimonial, o que interferiria em suas funções sacerdotais por algum tempo (Nm 19.11; Lv 21.1). De qualquer forma, alguma outra coisa era mais importante para ele do que a vida de um homem mesmo a vida de um semelhante judeu: “[…] descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo” (BEACON, 2006, p. 414).

1.2.3 - Um levita (Lc 10.32). Os levitas ajudavam os sacerdotes executando os serviços necessários no Templo (Nm 1.47-54). Qualquer que fosse o motivo que levou a ambos, o sacerdote e o levita, a passarem pelo seu semelhante judeu sem ajudá-lo, a ênfase é a mesma: o que importa é o que lhes faltou, e não o motivo pelo qual não agiram. Eles estavam quase (se não inteiramente) desprovidos de amor pelo seu próximo: “E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo”.

1.2.4 - Um samaritano (Lc 10.33). Os samaritanos eram descendentes de casamentos mistos de judeus nos dias do cativeiro; eles inventaram sua própria adoração, uma forma mista de judaísmo e paganismo (2Rs 17.22-31; Ed 4.1,2), com um templo próprio no monte Gerizim (Jo 4.20-23); eram considerados impuros pelos judeus (2Rs 17.29; Mt 10.5; Jo 4.9). Por isso, os samaritanos eram odiados pelos judeus e, evidentemente, a maioria dos samaritanos tinha um sentimento similar pelos judeus (Jo 4.9; 8.48). O importante é que um homem que não tinha nenhuma razão especial para ajudar este judeu e quase toda a motivação racial para não ajudá-lo, foi movido de compaixão por um ser humano que estava sofrendo. Embora esse ser humano pertencesse a uma raça odiada, ele parou e o ajudou, fazendo por ele o máximo que podia. É muito importante destacarmos os verbos que aparecem na atitude do samaritano mostrando seu grande amor pelo próximo: “chegou, viu, moveu, aproximou, atou, aplicou, pôs, levou, cuidou, deu, pagou” (Lc 10.33-35). Um caso interessante sobre os samaritanos é o relato dos 10 leprosos curados quando apenas um voltou reconhecendo a graça de Deus, e este, era um samaritano (Lc 17.11-19). 

1.3 - Propósito da parábola. Nenhum outro segmento dos ensinos de Jesus sofre tanto nas mãos de alguns intérpretes como as parábolas. Muitos abordam essa passagem usando o método alegórico, esse, entretanto, não é o método correto de se interpretar uma parábola. O texto mostra nitidamente que ao escriba que queria pegar Jesus em contradição com as minúcias da Lei, é surpreendido pela responsabilidade da graça: “[…] amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. […] respondeste bem; faze isso, e viverás” (Lc 10.27,28). O doutor da Lei queria manter a discussão em nível teórico e filosófico, mas o Senhor o conduz ao campo prático do amor e da ação em benefício do próximo: “Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira” (Lc 10.37). A parábola do bom samaritano destaca a verdade de que compaixão e cuidado são intrínsecas à fé salvadora e à obediência a Cristo. Amar a Deus deve ser também amar ao próximo: “Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveuse de íntima compaixão” (Lc 10.33).

II – CARACTERÍSTICAS DO AMOR VERDADEIRO ILUSTRADO NO BOM SAMARITANO
2.1 - Altruísta. Segundo o dicionário (2001, p. 171) a palavra altruísta, quer dizer: “sentimento de quem põe o interesse alheio acima do próprio”, ou seja, uma pessoa altruísta está mais preocupada com o interesse do próximo do que com o seu. O samaritano colocou sua agenda pessoal em segundo plano para servir. Ele “[…] ia de viagem […]” (Lc 10.33), tudo ficou para trás: viagem, negócios, perigo de assaltantes, para salvar aquele homem agonizante. Notemos até que ponto o samaritano ajudou o judeu:

(a) Ele lhe prestou um imediato socorro emergencial;
(b) Ele o levou para uma hospedaria, onde o homem poderia receber os cuidados necessários enquanto convalescia;
(c) Ele pagou a conta antecipadamente; e
(d) Ofereceu mais assistência caso fosse necessária.

Ele não negligenciou nenhum tipo de ajuda que pudesse prestar. Assim sendo, altruísmo é acima de tudo, uma demonstração de amor, pois, o amor não busca os seus interesses (1Co 13.5; Fp 2.4).

2.2 - Empático. Um sentimento que fica evidenciado no samaritano é a empatia, ou seja, “a ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias” (Lc 6.31). Sobre ele nos é dito: “[…] vendo-o, moveu-se de íntima compaixão” (Lc 10.33). O samaritano nem procurou saber quem era o necessitado a sua frente, sua religião ou mesmo a sua nação; agiu como que o que se passava fosse com ele mesmo ou um dos seus. Quando temos este amor de Deus servimos bem a todos, servimos bem à obra do Senhor, sem interesse em qualquer recompensa (Mt 7.12 ver ainda Lv 19.18; Mt 22.40; Rm 13.8,10). A ajuda deve ser prática, e não deve consistir simplesmente em sentir pena da pessoa (Tg 2.14-17). É provável que o sacerdote e o levita sentiram algum tipo de dó pelo ferido, mas não fizeram nada. A compaixão, para ser verdadeira, deve gerar atos (Tg 2.26; 1Jo 3.17,18).

2.3 - Imparcial. Quando o doutor da Lei perguntou a Jesus: “quem é o meu próximo” (Lc 10.29), Jesus contou-lhe então a parábola do bom samaritano, demonstrando que o verdadeiro amor não faz acepção de pessoas (Tg 2.1,8,9); pois, o homem que havia sido assaltado e espancado não foi ajudado pelo sacerdote e nem pelo levita, mas, foi socorrido por um samaritano, que não olhou para sua nacionalidade (Lc 10.25-37). Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos são os dois maiores mandamentos na Lei (Mt 22.34-40; Mc 12.28-34; Lc 10.25-27). A acepção de pessoas é uma atitude contrária à lei do amor (At 10.4; Rm 2.11; Ef 6.9; Tg 2.9), por isso, devemos amar a todos (Gl 6.10; 1Ts 3.12), inclusive nossos inimigos (Mt 5.44; Lc 6.27,35). “O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.10). Qualquer pessoa que está em necessidade é nosso próximo, nossa ajuda deve ser tão ampla como o amor de Deus (Jo 3.16).

III – EXORTAÇÕES BÍBLICAS SOBRE O AMOR AO PRÓXIMO
3.1 - Uma evidência do novo nascimento. João deixa bem claro que é impossível dizer que conhecemos a Deus, ou seja, que nascemos de novo, se não amarmos ao próximo. Ele diz: “Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1Jo 3.10; 4.20). É pelo amor ao próximo que demonstramos que somos nascidos de Deus: “Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1Jo 4.7). Em outras palavras, o apóstolo está afirmando que, se não amamos, é porque não conhecemos a Deus, ou seja, não somos nascidos dEle (Por mais que entendamos que uma pessoa não regenerada também possa amar seu próximo, pois mesmo depois da Queda, ainda existe, mesmo que manchada, a imagem de Deus nela). Que esta lição sirva de motivação e estímulo para amarmos a Deus e ao próximo.

3.2 - Um mandamento. Amar ao próximo é o segundo mandamento na Lei (Mt 22.35-40). E o apóstolo João reitera este mandamento, quando diz: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (1Jo 3.23). Em outra ocasião um doutor da Lei perguntou a Jesus: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22.35-40). Portanto, amar não é apenas uma opção, e sim, um mandamento.

3.3 - Caracteriza o autêntico cristão. O amor deve ser a marca distintiva dos seguidores de Cristo. Por isso, como cristãos, nossa responsabilidade não é apenas ensinar ou pregar sobre o amor, mas, acima de tudo, praticar o amor no nosso dia a dia. Jesus disse: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. (Jo 13.35). Quem afirma ser cristão, mas tem o coração insensível diante do sofrimento e da necessidade dos outros, demonstra cabalmente que não tem em si a vida eterna (Mt 25.41-46; 1Jo 3.16-20).

CONCLUSÃO
Que cada cristão seja um “bom samaritano” no sentido bíblico; que cada servo de Deus seja uma bênção para seu próximo. O amor ao próximo da parte de Deus abrange todos os homens, sem qualquer distinção de raça, língua e nacionalidade. Neste particular mais uma vez Jesus é o nosso modelo (Jo 13.15).

REFERÊNCIAS
BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento. PDF.
HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

LIÇÃO 07 – PERDOAMOS PORQUE FOMOS PERDOADOS - (Mt 18.21-35) 4º TRIMESTRE DE 2018


Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais
Pastor Presidente: Aílton José Alves
Av. Cruz Cabugá, 29 - Santo Amaro - Recife-PE / CEP. 50.040.000 Fone: 3084.1524 / 3084.1543

LIÇÃO 07 – PERDOAMOS PORQUE FOMOS PERDOADOS - (Mt 18.21-35)
4º TRIMESTRE DE 2018

INTRODUÇÃO
Respondendo um questionamento de um dos discípulos sobre o perdão, Jesus contou a parábola denominada de “credor incompassivo”, cujo ensinamento principal foi de que assim como Deus perdoa as nossas iniquidades, de forma semelhante devemos exercer misericórdia de forma ilimitada para com aqueles que pecam contra nós.

I – INFORMAÇÕES A RESPEITO DESTA PARÁBOLA
1.1 - Curiosidades. Esta parábola destaca-se entre as demais pelas seguintes características:
(a) ela só é encontrada no Evangelho de Mateus (Mt 18.23-35);
(b) está entre as classificadas “parábolas do Reino” (Mt 18.23); e,
(c) é uma das poucas parábolas que trata acerca do perdão (Mt 18.35), a outra está em Lucas 7.41,42.

1.2 - Pano de fundo. O pano de fundo que levou Jesus a contar esta parábola, foi para responder uma pergunta do apóstolo Pedro. Ele queria saber quantas vezes tinha que perdoar esse irmão: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei?” (Mt 18.21-b). O Talmude judaico baseado em Amós caps 1 e 2, ensinava que não se devia perdoar ao ofensor além de três vezes (BEACON, 2008, p. 131 – acréscimo nosso). Talvez querendo mostrar-se generoso, Pedro sugeriu: “Até sete?” (Mt 18.21-c), quem sabe aproveitando uma fala de Jesus em outra ocasião, quando disse que devia se perdoar o irmão até “sete vezes no dia” (Lc 17.3,4). No entanto, a resposta de Jesus foi extremamente confrontadora a perspectiva humana sobre o perdão, mostrando que não deve haver limites para exercê-lo: “Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete” (Mt 18.22). Se sete é um número que representa completude, setenta vezes sete deve ser plenitude absoluta (BOYER, 2009, p. 383).

II – OS PERSONAGENS DA PARÁBOLA
Embora a narrativa parabólica seja fictícia os personagens são figuras presentes do cotidiano de Israel. Vejamos quais os personagens desta parábola:

2.1 - O rei (Mt 18.23). Jesus iniciou esta parábola falando do primeiro personagem: “o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei […]” (Mt 18.23-a). É dito que este rei resolveu ajustar as contas com seus servos, a quem ele havia emprestado um dinheiro (Mt 18.23); que ele era generoso (Mt 18.26,33); mas, também justo (Mt 18.32-34).

2.2 - Um servo (Mt 18.23,24). Quando o rei iniciou o trabalho de prestação de contas entre os seus servos “foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos” (Mt 18.24-b). Sua dívida era muito grande visto que “um talento era o valor equivalente a seis mil denários, o que equivalia a seis mil dias úteis de trabalho ou trinta anos de trabalho. Um único talento era quase a renda de uma vida inteira” (ROBERTSON, 2011, p. 209). Na parábola é dito que ele não tinha com que pagar (Mt 18.25-a). Diante disso, o rei, valendo-se da Lei de Moisés (Êx 22.3; Lv 25.39,47), ordenou que este servo e toda a sua família fossem seus servos a fim de quitar a dívida (Mt 18.25). Ao saber que ele toda a família serviriam ao rei, este servo prostrou-se diante do rei e apelou para a sua misericórdia, rogando-lhe que lhe desse mais tempo para salvar a dívida completamente (Mt 18.26). Diante do pedido do servo, o rei, movido de íntima compaixão, decidiu perdoá-lo da dívida: “Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida” (Mt 18.27). Sobre este servo é dito que era apto a pedir misericórdia, mas não de exercer misericórdia (Mt 18.26,33). Por causa dessa atitude ele é chamado pelo rei de “servo malvado” (Mt 18.32-a).

2.3 - O conservo (Mt 18.28). Ao sair da presença do rei com a sua dívida perdoada, o servo encontrou-se com um dos seus conservos (Mt 18.28); e, ao abordá-lo cobrou lhe os “cem dinheiros” ou “cem denários”, que este lhe devia: “e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves” (Mt 18.28-b). O denário equivalia a um dia de trabalho (Mt 20.2) (CHAMPLIN, 2004, p. 474). O conservo diante da cobrança se humilhou e rogou misericórdia para poder saldar o seu débito “[...] prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei” (Mt 18.29). No entanto, seu pedido por generosidade foi negado, e ele foi sentenciado a prisão, até que quitasse a dívida (Mt 18.30). Embora estivesse em seu poder perdoar o conservo, este homem o negou: “Ele, porém, não quis […]” (Mt 18.30). Vejamos abaixo as diferenças entre o servo e o conservo:

SERVO
Foi chamado pelo rei para prestar contas (Mt 18.23,24)
Devia dez mil talentos (Mt 18.24)
Prostrou-se para pedir tempo para pagar e foi perdoado (Mt 18.25-27)

CONSERVO
Foi abordado com violência pelo seu senhor (Mt 18.28)
Devia cem dinheiros (Mt 18.28)
Prostrou-se para pedir tempo para pagar e foi preso (Mt 18.29,30)

III – ENTENDENDO QUEM OS PERSONAGENS REPRESENTAM
Nem sempre os personagens de uma parábola tem significação. No entanto, nesta, percebemos que Cristo lhes dá um sentido. Vejamos:

3.1 - Deus é o rei (Mt 18.35). Embora nem sempre nas parábolas cada personagem tenha um significado, nesta especificamente, fica claro que o “rei” é uma figura de Deus, como o próprio Jesus aplica (Mt 18.35). O rei é o principal chefe ou governante de uma tribo ou nação” (CHAMPLIN, 2004, p. 617). O título de rei, nas Escrituras, tanto é aplicado ao Pai (Sl 10.16; 145.13; Jr 10.10) como ao Filho (Ap 17.14; 19.16). O monarca desta parábola retrata o caráter divino pois é apresentado como um rei que:

(a) se compadece: “movido de íntima compaixão” (Ef 2.4,5; Tt 3.5; 1 Pd 2.10; Sl 103.13; Rm 12.1);
(b) liberta: “soltou-o” (Ef 1.7; 1 Pd 1.18,19; Lv 17.11); e,
(c) perdoa: “e perdoou-lhe a dívida” (Is 55.7; 1 Jo 1.9).

Sua bondade em perdoar o servo de sua dívida e sua justiça e juízo de puní-lo por negar misericórdia ao conservo retratam perfeitamente o caráter divino que está disposto a perdoar o pecador arrependido (Mt 9.13; Lc 5.32; Rm 11.32), mas também de punir ao pecador perdoado que se recusa liberar perdão (Mt 6.15; 18.34,35; Mc 11.26).

3.2 - Nós somos os servos (Mt 18.23,35). Os servos do rei são todos aqueles que se submeteram a Cristo como Senhor e Salvador. Isto fica evidente no início da parábola, quando Jesus está falando do Reino de Deus aos súditos desse Reino, ou seja, seus discípulos (Mt 18.23). Assim como este servo tinha uma dívida da qual não tinha condições de pagar ao rei e clamando por misericórdia foi perdoado, ele retrata a nossa condição de pecadores diante de Deus (Rm 3.23) que somente por Sua imensurável graça poderíamos ser restaurados, pois o pecado é uma dívida que o homem contrai, para a qual o único recurso é o perdão (Cl 2.13; 1 Jo 1.9; 2.12).

3.3 - O conservo é o nosso irmão (Mt 18.28,35). O conservo da parábola é o nosso irmão, isto fica claro, a luz do contexto, ou seja, do texto que precede a parábola, quando vemos Jesus falar sobre o tratamento que se deve a “um irmão que peca contra o outro” (Mt 18.15). O rei perdoou o servo a sua dívida e esperava que ao menos o servo perdoado pudesse fazer o mesmo com o seu conservo, por isso disse “Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?” (Mt 18.33). Não podemos agir com o nosso irmão diferente da forma como Deus age conosco (Lc 10.27). Isto Jesus ensinou quando disse “e, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas” (Mc 11.25). O apóstolo Paulo também firmou: “como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também” (Cl 3.13; Ef 4.32); os demais apóstolos transmitiram o mesmo ensino (1 Pd 2.21; 1 Jo 1.7; 4.7).

IV – O PRINCIPAL ENSINAMENTO DESTA PARÁBOLA: O PERDÃO
Mateus registrou os ensinamentos de Jesus mais diretamente relacionados com a conduta dos seus discípulos como membros do Reino trazido à terra por Ele. O reino dos céus tem valores essencialmente diferentes dos que caracterizam as instituições terrenas e as organizações seculares. A sociedade dos perdoados fica sem sentido, se os que são perdoados não perdoam (TASKER, 2006, p. 138). O verbo “perdoar” significa: “renunciar a punir; desculpar; poupar; ver com bons olhos” (HOUAISS, 2001 p. 2185). Sobre o perdão, Jesus ensinou que:

4.1 - O perdão não deve ser limitado (Mt 18.21,22). A resposta de Jesus a pergunta de Pedro quantas vezes se devia perdoar o irmão ofensor com a sugestão de “até sete” (Mt 18.21-c), teve como resposta do Mestre “até setenta vezes sete” (Mt 18.22), o que significa dizer: de forma ilimitada. Assim como Deus amou o mundo de maneira ilimitada (Jo 3.16), devemos reproduzir este amor nos nossos relacionamentos (1 Jo 3.16).

4.2 - O perdão não deve ser negado (Mt 18.35-a). Jesus ensinou que não podemos negar o perdão aquele que arrependido nos rogar, tendo como base o caráter generoso do próprio Deus, que sempre nos perdoa quando sinceramente lhe pedimos. A Bíblia diz que Ele “está pronto a perdoar” (Sl 86.5); e, que é “grandioso em perdoar” (Is 55.7). Veja ainda: (2 Cr 7.14; Pv 28.13; 55.7; 1 Jo 2.1). Portanto, quando perdoamos nos assemelhamos a Deus (Lc 6.36; Ef 4.32 Cl 2.13; 1 Jo 1.9; 2.12).

4.3 - O perdão não deve ser superficial (Mt 18.35-b). Perdoar é mais que palavras (1 Jo 3.18). Jesus ensinou que é preciso que o perdão brote do coração, ou seja, do íntimo do nosso ser (Mt 18.35-b). A Bíblia diz que não podemos guardar ira no coração (Ef 4.26; Tg 3.14), nem permitir que nele brote raiz de amargura (Ef 4.31; Hb 12.15). Como é nele que pode se formar o ódio é nele que o perdão deve nascer a fim de curar o mal em sua nascente. Ainda sobre o perdão é preciso destacar que:

(a) é uma condição para permanecermos em comunhão Deus (Mt 6.12,14-15; 18.35; Mc 11.25,26);
(b) ele revela se somos autênticos cristãos (Mt 3.8; 7.20; 12.33; Lc 6.44; Gl 5.22); e,
(c) ele é condição para Deus receber a nossa oferta (Mt 5.23,24).

CONCLUSÃO
Jesus ensinou que as ofensas que os homens cometem uns contra os outros são mínimas em comparação às ofensas que todos cometem contra Deus. Se Ele nos perdoa por Sua graça, devemos tratar o nosso próximo com a mesma graça.

REFERÊNCIAS
BOYER, Orlando. Espada Cortante. CPAD.
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
ROBERTSON, A.T. Comentário de Mateus e Marcos. CPAD.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

LIÇÃO 06 – SINCERIDADE E ARREPENDIMENTO DIANTE DE DEUS - (Lc 18.9-14) 4º TRIMESTRE DE 2018


Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
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LIÇÃO 06 – SINCERIDADE E ARREPENDIMENTO DIANTE DE DEUS - (Lc 18.9-14)
4º TRIMESTRE DE 2018

INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos quem eram os fariseus e os publicanos; definiremos um contraste das palavras arrogância e humildade; veremos algumas características negativas do caráter do fariseu; e por fim, notaremos um contraste entre a oração do publicano e do publicano.

I - QUEM ERAM OS FARISEUS E OS PUBLICANOS
Jesus proferiu três parábolas relacionadas com a oração que são respectivamente:

(a) o amigo importuno (Lc 11.5-13);
(b) o juiz iníquo (Lc 18.1-8); e,
(c) o fariseu e o publicano (Lc 18.9-14).

A parábola do fariseu e o publicano é constituída de duas orações feitas por dois homens com dois resultados diferentes. Vejamos alguns detalhes sobre estes dois personagens:

1.1 - Os fariseus. Eram de uma seita judaica que surgiu na segunda metade do período interbíblico (tempo que decorreu entre o encerramento do AT e o início do NT, entre Malaquias e Mateus). No início da formação da seita, os fariseus eram devotos e fiéis, visando conservar viva a fé em Deus, a obediência à sua Lei, manter a pureza moral e espiritual e fortalecer a esperança messiânica (GILBERTO, 1990, p. 7). Não tardou muito e os fariseus tornaram-se legalistas, formalistas e hipócritas, dando mais valor à tradição do que às Sagradas Escrituras. Ao longo de seu ministério público, Jesus condenou a hipocrisia e a incredulidade dos fariseus (Lc 11.39-54). Descreveu-os como devedores falidos, incapazes de pagar sua dívida a Deus (Lc 7.40-50), convidados brigando pelos melhores lugares (Mt 23.13-39; Lc 14.7-14) e filhos orgulhosos de sua obediência, mas alheios às necessidades dos outros (Lc 15.25-32) (WIERSBE, 2007, vol. 1, p. 323).

1.2 - Os publicanos. Eram judeus cobradores de impostos e por isso eram odiados e tidos como traidores porque trabalhavam para Roma que ocupava a terra dos judeus. O termo publicano vem do latim “publicum” porque seu trabalho estava ligado à renda pública. Geralmente eles extorquiam dinheiro, cobrando a mais, e aceitavam suborno dos ricos (Lc 3.12,13; 19.1-10). Eram comparados a:

(a) pecadores (Mt 9.10-13; Lc 15.1);
(b) meretrizes (Mt 21.31); e,
(c) gentios (Mt 10.18; 1Ts 4.5).

Eram ainda tidos como impuros porque estavam sempre em contato com gentios (GILBERTO, 1990, p. 7).

II - CONTRASTE ENTRE ARROGÂNCIA E A HUMILDADE
2.1 - Arrogância. Segundo o dicionarista Houaiss (2001, p. 303), arrogância significa: “ato de atribuir a si mesmo privilégio; atitude prepotente de desprezo com relação aos outros; atitude desrespeitosa e ofensiva em atos ou palavras; orgulho ostensivo; soberba; altivez; insolência; atrevimento”. O termo deriva-se do hebraico “zadôn” e significa altivez, orgulho ou soberba (Ml 4.1; Sl 119.51,69,78,122; Jr 43.2). O orgulho é um pecado e é abominável diante de Deus (Pv 6.16,17; 21.4). No NT o termo é “alazonia”, que é traduzido por soberba ou orgulho (1Tm 3.6; 1Jo 2.16). É esta obra da carne que podemos ver na pessoa do fariseu.

2.2 - Humildade. Segundo o dicionarista Houaiss (2001, p. 1555), humildade significa: “virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações; simplicidade; sentimento de fraqueza e inferioridade com relação a alguém; ausência completa de orgulho; rebaixamento voluntário por um sentimento de fraqueza ou respeito; modéstia; ausência de orgulho, soberba ou vaidade”. O termo deriva-se do hebraico “ãnãw”, que quer dizer “humilde” e “ãnãwâ” que significa “humildade” (Jó 22.29; Sl 10.12; 138.6; Pv 11.2; 14.21; 15.33; 16.19; 18.12). Nas páginas do NT o termo é “tapeinos” (Mt 11.29; Lc 1.52; Rm 12.16; 2Co 7.6; Tg 4.6; 1Pe 5.5). A humildade está associada a uma consciência de que tudo que temos ou somos vem do Senhor (Pv 15.33; 18.12; 22.4; 1Pe 5.5). É este fruto do Espírito que podemos ver na pessoa do publicano.

III - CARACTERÍSTICAS DO FARISEU
O fariseu da parábola tinha religião e religiosidade, mas voltou vazio do templo, porque tudo quanto ele apresentava era mera aparência, estando seu coração tão somente cheio de orgulho e de autojustiça. Ele apenas parecia justo diante dos outros, mas no seu coração nem amava a Deus, nem ao próximo. A autojustiça do ser humano é um mal universal: “Cada qual entre os homens apregoa a sua bondade […]” (Pv 20.6). Jesus usa o método de ensino comparativo, mediante contrastes. Notemos:

3.1 - Confiava em si mesmo. O fariseu usava a oração como forma de obter reconhecimento público, não como exercício espiritual para glorificar a Deus (Mt 6.5; 23.14) Os fariseus eram o verdadeiro exemplo daqueles que “[…] uns que confiavam em si mesmos” (Lc 18.9-a). É o erro de confiar no nosso “eu”: “Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo […]” (Lc 10.29). É um grande erro confiar em sua própria justiça: “E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração, porque o que entre os homens é elevado perante Deus é abominação” (Lc 16.15). Outras coisas fracas em que não devemos confiar são:

(a) nas riquezas (Mc 10.24);
(b) nos homens (Jr 17.5;3);
(c) nos “muros” da vida (Dt 28.52; 4);
(d) nos carros e cavalos (Sl 20.7);
(e) nas palavras falsas (Jr 7.8,6);
(f) na formosura (Ez 16.15); e,
(g) na armadura humana (Lc 11.22).

3.2 - Acreditava que era justo. Em sua oração, em momento algum ele confessou seus pecados e mostrou arrependimento. O fariseu alimentava uma falsa fé quanto à justiça: “[…] crendo que eram justos […]” (Lc 18.9-b). Essa parábola é uma grande advertência sobre autojustiça durante a oração. Aqui está uma das razões de muitas orações não respondidas: irmos a Deus julgando-nos merecedores de alguma coisa, porque somos justos (Is 64.6; Fp 3.8,9). Tudo recebemos de Deus como resultado do seu amor gracioso (Dt 7.6-8; Tt 3.5-7). O fariseu estava em pé de modo soberbo, exibicionista e denotando superioridade e isso revelou o seu caráter: “[…] não sou como os demais homens roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano” (Lc 18.11-b) (WIERSBE, 2007, vol. 1, p. 323).

3.3 - Desprezava os outros. Os outros que não pareciam “justos” a seus próprios olhos, como os fariseus, e quem não agisse como eles eram tidos como pecadores (Lc 5.30; 18.11). Os fariseus se sentiam superiores e mais santos do que os demais homens: “[…] e desprezavam os outros” (Lc 18.9-c). O termo como está no versículo 9 significa: “não fazer caso de alguém, não dar importância, rejeitar, discriminar, considerar o próximo como nada”. Algo muito parecido com o que o Senhor falou pelo profeta Isaías: “E dizem: retira-te, e não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu […]” (Is 65.5). Quem se entrega a Cristo para obter Sua justiça, reconhece que nada é em si mesmo, e sempre está pronto a admitir que os outros são melhores do que ele. Um verdadeiro filho de Deus não despreza ninguém: “Tu também, por que desprezas teu irmão?’’ (Rm 14.10). O orgulho do fariseu condenou-o, mas a fé humilde do publicano o salvou (ver Lc 14.11 e Is 57.15).

IV – CONTRASTE ENTRE A ORAÇÃO DO FARISEU E DO PUBLICANO
Vejamos alguns contrastes entre as orações do fariseu e do publicano:

4.1 - A oração do fariseu. O fariseu agradece a Deus por não ser como os demais homens. Isso significa que ele atribuía a Deus a sua maneira hipócrita de ser, sua autossuficiência de justiça: “Ó Deus Graças te dou […]” (Lc 18.11-a). Ora, agradecer a Deus por isso, significa realmente acusá-lo. Ele estava prestando um relatório dos outros a Deus, e não orando: “[…] não sou como este publicano”. Vemos aqui sua atitude de desprezo pelo próximo, e seu orgulho pessoal. A outra evidência do seu orgulho perverso está nas palavras de Jesus concernentes a esta oração: “[…] qualquer que a si mesmo se exalta” (Lc 18.14). Até aqui o fariseu diz a Deus o que ele era, mas no versículo 12 ele passa a dizer o que ele faz. A sua oração só continha informação e ele jejuava por formalidade; não por necessidade e voluntariamente.

4.2 - A oração do publicano. O caso do publicano ensina-nos como disse o salmista: “a um coração contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17). “O publicano, porém, estando em pé […]” (Lc 18.13). A construção verbal como está no original, denota atitude humilde, sem qualquer ostentação. O texto ainda diz que o publicano orava “de longe” isto é, longe do templo propriamente dito. No templo mesmo só entravam os sacerdotes para lá ministrar. Em volta do templo havia várias áreas chamadas átrios, onde ficava o povo, dependendo do seu grupo. O átrio onde se fazia oração era o das mulheres. O fariseu postou-se na extremidade desse átrio, próximo ao templo. O publicano postou-se na outra extremidade, distante do templo, reconhecendo a indignidade de aproximar-se do santo lugar (Is 6.5-7; 1Tm 1.15). O publicano: “nem ainda queria levantar os olhos aos céus”. O publicano, de tão convicto, vendo que suas palavras não eram suficientes para expressar o seu arrependimento, batia no peito, mostrando que sua oração partia de um coração quebrantado: “[…] mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lc 18.3-c). Isso fala de lamento, pesar, aflição (Lc 23.48; Jr 31.19; Na 2.7).

V - LIÇÕES DA PARÁBOLA DO FARISEU E O PUBLICANO
Podemos refletir sobre algumas lições práticas importantes que esta parábola nos ensina. Vejamos:

5.1 - Deus não se impressiona. O fariseu tentou impressionar a Deus; ele fez isso se comparando às outras pessoas e mostrando o quanto era superior a elas. Ele se julgava diferente e acima de todos. O publicano, por sua vez, também se comparou às outras pessoas, mas ele se julgou inferior a todas elas. Ele classificou-se a si mesmo como “o pecador”. O apóstolo Paulo também fez o mesmo: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores, dos quais eu sou o principal” (1Tm 1.15).

5.2 - Deus não dá Sua glória a ninguém. A oração do publicano expressa uma verdade presente em toda a Bíblia, declarando que a salvação, do início ao fim, pertence a Deus e é atribuída à Sua misericórdia e graça (Sl 51.1; Lc 18.13; Ef 2.8; Tt 3.5). O homem é incapaz de justificar-se a si mesmo. A oração do fariseu aparentemente parecia ser uma oração de gratidão. Aos olhos humanos, tal oração poderia realmente representar as palavras de alguém justo e distinto por sua religiosidade. Porém, aos olhos de Deus, tal oração era uma afronta, uma ofensa, pois na verdade ela atacava a glória de Deus.

5.3 - Elogio humano pode ser perverso e enganoso. Quando o fariseu começou a se autocongratular, ele disse que não era um ladrão, um desonesto e um adúltero. Tudo o que o fariseu dizia não ser, na verdade, ele era. O fariseu era o ladrão que naquele exato momento roubava a glória de Deus nas palavras de sua oração. Ele era o homem desonesto que defraudava a si mesmo. Por último, ele era o adúltero culpado do pior de todos os adultérios, ao apostatar do verdadeiro Deus (Os 1.2; 5.3).

CONCLUSÃO
A Parábola do fariseu e o publicano nos convida a fazer um importante autoexame. Devemos olhar para nossas vidas e avaliar nossa conduta diante da Palavra de Deus, afinal, fariseus e publicanos continuam espalhados por todos os lugares.

REFERÊNCIAS
GILBERTO, Antônio. Lições Bíblicas Maturidade Cristã. CPAD
HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
LOCKYER, Herbert. Todas as Parábolas da Bíblia. VIDA
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Novo Testamento. GEOGRÁFICA.

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