Igreja
Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
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LIÇÃO 09 – A MORDOMIA DO TRABALHO - (2Ts 3.6-13)
3º
TRIMESTRE DE 2019
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição da
palavra trabalho à luz do Antigo e Novo Testamento; também faremos algumas
considerações bíblicas a respeito do assunto; e, por fim, elencaremos alguma atitudes
corretas a seguir, no que diz respeito ao cristão e a mordomia do trabalho.
I –
DEFINIÇÃO DA PALAVRA TRABALHO
De acordo com Houaiss (2001, p. 2743)
trabalho significa: “esforço incomum; luta, lida, faina; conjunto de atividades
produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim;
atividade profissional regular, remunerada ou assalariada”. Nas Escrituras
várias são as palavras usadas traduzidas como trabalho, entre estas destacamos
uma das principais que é o substantivo hebraico: “maaseh” que significa:
“trabalho, obra, ação, labor, labuta, comportamento”. Esse termo é usado cerca
de 235 vezes no Antigo Testamento, aparecendo pela primeira vez na fala de
Lameque, pai de Noé, com o sentido de trabalho agrícola (Gn 5.29). Sendo uma palavra
geral para designar trabalho, “maaseh” é usada para se referir ao trabalho de
um hábil: (a) artífice (Êx 26.1); (b) tecedor (Êx 26.26), (c) joalheiro (Êx
28.11); e, (d) perfumista (Êx 30.25). O termo equivalente no Novo Testamento é:
“ergon” que denota: “trabalho, emprego, tarefa” (Mc 13.34; Jo 4.34; 17.4; At
13.2; Fp 2.30; 1Ts 5.13). De onde advém o termo: “ergatés” que denota:
“operário de campo, agricultor (Mt 9.37,38), “ceifeiros” (Mt 20.1,2,8; Lc 10.2;
Tg 5.4), “trabalhador, operário”, em sentido geral (Mt 10.10; Lc 10.7; At
19.25; 1Tm 5.18) (VINE, 2002, pp. 312,1028,1029).
II – O
TRABALHO À LUZ DAS ESCRITURAS
2.1 - O
trabalho veio antes da queda do homem. Diferente do que algumas pessoas
imaginam, o trabalho não é o julgamento de Deus por causa do pecado de Adão (Gn
3.17-19). Se examinarmos corretamente as Escrituras, veremos que Deus colocou o
homem no jardim do Éden para o “lavrar e o guardar”, ou seja, para trabalhar
antes mesmo da desobediência ao Senhor (Gn 2.15). Adão já trabalhava antes de pecar,
cuidando do jardim. Uma das consequências do pecado, além da morte, foi que o
trabalho seria “penoso e suado” (Gn 3.19), e isso não significa que ele seja
amaldiçoado por Deus. “Não é, pois, bom para o homem que coma e beba e que faça
gozar a sua alma do bem do seu trabalho? Isto também eu vi que vem da mão de
Deus” (Ec 2.24).
2.2 - O
trabalho não é resultado do pecado. Desde a criação de Deus que o
homem foi colocado no jardim para “trabalhá-lo, “cultivá-lo” (Gn 2.15). A
maldição (Gn 3.16-17) era apenas “a dor e a fadiga” que haviam de acompanhar o
trabalho (Gn 3.18), não o trabalho em si. Isso é destacado quando Lameque diz,
por ocasião do nascimento de Noé, que: “este nos consolará dos nossos trabalhos
e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o Senhor amaldiçoou” (Gn 5.29).
Sendo assim, o trabalho é uma bênção de Deus e é necessário aos homens: “Pois
comerás do trabalho das tuas mãos, FELIZ SERÁS, e te irá bem” (Sl 128.2 – grifo
nosso). “Em todo trabalho há proveito [...]” (Pv 14.23-a).
2.3 - O homem
imita seu Criador quando trabalha. Ao trabalhar seis dias e
descansar ao sétimo, Israel imitava a Deus ao criar o “kosmos” (Gn 2.1-2). O
profeta Isaías disse que Deus trabalha: “Porque desde a antiguidade não se
ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti
que trabalha para aquele que nele espera” (Is 64.4). Jesus fez também a
seguinte declaração: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo
5.17). Uma vez que até dar início ao Seu ministério terreno, Jesus trabalhou
como carpinteiro (Mt 13.55; Mc 6.3), nos deixando o modelo a ser seguido (Is
53.3; 1Pd 2.21).
2.4 - O
trabalho dignifica o ser humano. Os hebreus sempre tinham o
trabalho em elevada consideração (Pv 22.29) e, ao contrário dos gregos e
romanos, respeitavam o trabalho manual: “[…] quem a ajunta pelo trabalho [lit.
pelas mãos] terá aumento” (Pv 13.11 – acréscimo nosso). Na tradição judaica,
existem provérbios como os que se seguem: “Aquele que não ensina a seu filho um
ofício é como se o guiasse para o roubo”; e ainda: “O trabalho deve ser
grandemente premiado, pois ele exalta o trabalhador, e o sustenta” (PFEIFFER,
2007, p. 1955 – grifo nosso). No NT, o princípio de dignidade do trabalho, é
proclamado pelo Senhor Jesus e permanece como uma das bases da sociedade: “[…]
digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10.7). Diante disso, Paulo para fazer
os tessalonicenses repensarem a respeito da importância do trabalho, menciona
seu próprio exemplo, que mesmo tendo o direito de receber sustento da igreja
(1Co 9.6-14; 2Ts 3.9), abriu mão desse direito eliberadamente, a fim de ser um
exemplo aos recém convertidos, trabalhando para prover seu sustento (1Ts 2.9;
2Ts 3.8; At 18.1-3; 20.34; 1Co 4.12) e assim, estabeleceu uma lei de economia
social em sua afirmação de que: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma”
(2Ts 3.10 – ARA). O grave é a rejeição ao trabalho, isto não tem nada que ver
com o desafortunado que não consegue encontrar trabalho (BARCLAY, sd, pp.22,23
– grifo nosso) ou seja, aos que por razões de falta de oportunidade de emprego,
estão sem trabalhar.
III – O
CRISTÃO E A MORDOMIA DO TRABALHO
3.1 - O
cristão e a disposição para o trabalho. A Bíblia é clara quanto a
reprovação ao preguiçoso (Pv 6.6,9-11; Pv 23.13; 26.13). Quando Paulo escreveu
sua primeira carta à igreja de Tessalônica, advertiu os crentes ociosos que
eles deveriam trabalhar (1Ts 4.11), aconselhando os líderes da igreja a
admoestar esses insubmissos (1Ts 5.14). Porém, estes não se arrependeram uma
vez que Paulo precisou dedicar o restante de sua segunda carta para corrigir o
mesmo problema, onde ele adverte quanto a uma atitude incompatível à mordomia
cristã, que é a preguiça, a ociosidade (2Ts 3.6-15). Admoestando aqueles que,
provavelmente por esperarem um rápido regresso de Cristo, haviam deixado de
trabalhar e eram uma carga para os demais. Existiam alguns “irmãos” que viviam
supostamente “pela fé”, esses crentes permaneciam ociosos (2Ts 3.11) e, ainda,
esperavam que a igreja os sustentasse. Em relação a estes Paulo tinha um
conselho explícito: “[…] que vos aparteis de todo irmão que ande
desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes (2Ts 3.6).
Para preservar padrões cristãos, os desordeiros têm de sentir a pressão do
sentimento cristão contra tal conduta: “Mas, se alguém não obedecer à nossa
palavra por esta carta, notai o tal e não vos mistureis com ele, para que se
envergonhe” (2Ts 3.14). Segundo Beacon (2010, pp. 428,429): “O texto não está
falando de excomunhão ou de ostracismo total, mas de uma indiferença social que
indica que um padrão foi levantado, e que violá-lo provoca a repreensão da
igreja”.
3.2 - O
cristão como empregado. Quando os escritores do Novo Testamento
se referem aos “servos”, o termo refere-se, sem dúvida alguma, a escravos
cristãos, já que a maioria da igreja era composta de escravos. É bom que se
diga que, em nenhuma parte da Escritura se afirma que a escravidão em si mesma
é uma ordenança divina como o matrimônio (Gn 2.18), a família (Gn 1.28), ou o
governo humano (Rm 13.1). E, por isso mesmo, não agrada ao Senhor que um homem
seja o dono de outro. Paulo não aconselhou rebelião aberta dos escravos contra
seus senhores, mas tratou de mudar a estrutura social por meios pacíficos (Cl
4.9; Fm 16). A revolução espiritual transformou o contexto social e acabou com
a escravidão daqueles dias. Vejamos, portanto, alguns deveres dos cristãos, no
exercício da sua mordomia do trabalho:
3.2.1 - Deve
trabalhar com submissão e honestidade. O cristão, justamente porque é
cristão, deve ser melhor trabalhador que qualquer outro. Visto que, aos que
servem a Deus, não existe bipolaridade entre o secular e o sagrado, por essa
razão assim exorta o apóstolo Paulo: “Vós, servos, obedecei a vosso senhor
segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a
Cristo” (Ef 6.5). Obedecer com tremor e temor não quer dizer terror servil,
mas, antes, o espírito de solicitude de quem possui o verdadeiro sentido de
responsabilidade. É o cuidado de não deixar nenhum dever sem ser cumprido. “Com
sinceridade de coração”, refere-se a fazer o trabalho com realismo, sem
duplicidade e sem fingimento (VAUGHAN, apud, LOPES, 2009, p. 172). O empregado
precisa ser honesto, precisa honrar sua empresa, seu patrão, cumprindo seu
papel com fidelidade (Gn 39.3-9; Dn 6.3-5), como disse o apóstolo: “não
servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo,
fazendo de coração a vontade de Deus” (Ef 6.6; Cl 3.22). Quando o cristão
exerce corretamente sua mordomia do trabalho sendo um bom funcionário, isso
redunda em glorificação do nome do Senhor (1Co 10.31).
3.2.2 - Deve
trabalhar com coerência e prudência. O fato de tanto um empregado
quanto seu patrão serem cristãos não é desculpa para que qualquer uma das
partes trabalhe menos. Observemos a expressão de Paulo: “[…] servos, obedecei a
vosso senhor segundo a carne […] como a Cristo” (Ef 6.5). A expressão: “como a
Cristo”, quer dizer que o empregado deve encarar a obediência ao seu patrão como
uma espécie de serviço prestado ao próprio Senhor Jesus. Essa é a mesma
pessência da submissão da esposa ao marido (Ef 5.22), dos filhos aos pais (Ef
6.1) e, dos empregados aos patrões (Cl 3.23). Eles devem obedecer porque são
servos de Cristo. Eles devem ser leais aos patrões por causa do compromisso que
têm com Deus. A melhor maneira de testemunhar no local de trabalho é demonstrar
diligência e competência em sua atividades. Assim, o empregado deve realizar
seu trabalho “de coração”, pois está servindo a Cristo e fazendo a vontade de
Deus. Por vezes, aqueles servos cristãos tinham de realizar tarefas que não
fossem tão confortáveis, mas, ainda assim, deviam cumpri-las, desde que não
fossem contrárias à vontade de Deus; uma vez que determinadas atitudes e/ou
“trabalhos” vis e desonestos, são incompatíveis com a fé cristã (Dt 23.18; Lc
19.8; 1Co 10.23), pois, como servos de Deus só devemos realizar trabalhos
honrados (Ef 4.28).
3.3 - O
cristão como patrão. Após falar da dedicação dos servos,
Paulo volta sua atenção aos senhores: “Senhores, tratai os servos com justiça e
com equidade, certos de quem também vós tendes Senhor no céu” (Cl 4.1). Paulo
combate aqui a exploração dos servos e empregados pelos seus senhores e
patrões. Os empregadores precisam tratar os empregados com justiça e equidade.
Explorar os empregados, sonegar-lhes o salário (Tg 5.4-6), oprimi-los,
ameaçá-los ou tratá-los como seres inferiores é um grave pecado contra Deus (Ef
6.9).
CONCLUSÃO
Concluímos que o cristão precisa
exercer com excelência a sua mordomia do trabalho, entendendo que mais do que
uma atividade pessoal, é um serviço ao Senhor.
REFERÊNCIAS
· BARCLAY,
William. Comentário do Novo Testamento: 2 Tessalonicenses. PDF
· HOWARD,
R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. RJ: CPAD, 2010.
· HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. RJ: OBJETIVA, 2001.
· VINE, W.E,
et al (Trad. Luís Aron). Dicionário Vine. RJ: CPAD, 2002.
· LOPES,
Hernandes Dias. Efésios: Igreja, a noiva de Cristo. SP: HAGNOS. 2009.
· PFEIFFER,
F. Charles. et al (Trad. Degmar Ribas) Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD,
2007.
· WIERSBE, W.
W (Trad. Susana Klassen). Comentário Bíblico Expositivo NT. SP: GEOGRÁFICA,
2007.
· STAMPS,
Donald C (Trad. Gordon Chown). Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1995
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