Igreja
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LIÇÃO
09 – ÉTICA CRISTÃ E PLANEJAMENTO FAMILIAR - (Gn 1.24-31)
2º
TRIMESTRE DE 2018
INTRODUÇÃO
Nesta
lição abordaremos um dos assuntos relevantes para o desenvolvimento da relação
matrimonial; será destacado o que se entende como planejamento familiar, tanto
no âmbito secular como na ética cristã; indicaremos algumas finalidades desse
planejamento e métodos existentes para que ele seja possível; elencaremos
também, algumas concepções erradas sobre o assunto; e por fim, pontuaremos
considerações à luz da Bíblia sobre planejamento familiar.
I
– O QUE É PLANEJAMENTO FAMILIAR
Um
dos temas mais intrigantes do ponto de vista cristão na relação matrimonial, é
o de planejamento familiar. Isso se dá muito provavelmente, pelo fato de que a
Bíblia refira-se à procriação (Gn 1.27,28), e não trate diretamente sobre o
planejamento familiar. Vejamos então algumas considerações sobre esse
importante e controverso assunto.
1.1 - Conceito secular. Segundo Houaiss
(2001, p. 2232) planejamento é: “ato ou efeito de planejar; determinação de um
conjunto de procedimentos, de ações, visando a realização de determinado
projeto”. Quanto a planejamento familiar, Houaiss ainda informa, que essa
expressão tornou-se usual a partir de 1930, e que se refere a: “esquema que
regula o número de nascimento dos filhos de um casal e que envolve diferentes
métodos […]”. Assegurado pela Constituição Federal e também pela Lei n° 9.263,
de 1996, o planejamento familiar é: “um conjunto de ações que auxiliam o casal
que pretende ter filhos e também quem prefere adiar o crescimento da família”.
1.2
- Na perspectiva da ética cristã. Planejamento familiar no âmbito da ética
cristã, diz respeito a decisão equilibrada e em comum acordo entre o casal,
quanto ao número de filhos que querem e podem criar, educando-os de forma
digna; levando em conta a realidade de cada família e considerando os
princípios exarados das Escrituras. No contexto cristão, quanto a essa decisão,
podemos afirmar que o casal deve buscar direção divina por meio da oração e
submeter-se à orientação do Espírito Santo (Sl 37.5; Pv 15.22; Is 55.8,9).
II
– FINALIDADES DO PLANEJAMENTO FAMILIAR NA ÉTICA CRISTÃ
O
planejamento familiar na Ética Cristã, pode ser resumido basicamente em dois
propósitos. Vejamos a seguir:
2.1
- Evitar a gravidez irresponsável. Gerar filhos é uma ordenança de Deus para
toda a humanidade seja antes ou após Queda (Gn 1.28; 9.1; Jr 29.6), sendo parte
integrante do projeto divino para perpetuação da raça humana, a quem fez a sua
imagem e semelhança (Gn 1.26); no entanto, incorrem em erro aqueles que, pela falta
de planejamento, procriam em demasia e não conseguem prover o suficiente e
indispensável para os filhos. Desse modo, a paternidade irresponsável torna-se
culpada pelas mazelas a que sua prole estará exposta durante toda a vida
(BAPTISTA, 2018, p. 111).
2.2
- Escolher o momento oportuno para a chegada dos filhos. Visando proporcionar
um melhor ambiente para a chegada dos filhos, através do planejamento familiar,
o casal poderá decidir em alguns casos, o momento em que isso deve acontecer
(Ec 3.1,2a), para que seja proporcionado uma melhor qualidade de vida para os
filhos e satisfação dos pais por exercerem uma paternidade responsável. Deus
como exemplo supremo de paternidade, em seu projeto salvífico para a
humanidade, planejou o momento exato que seu Filho Jesus deveria nascer (Gl
4.4); Jesus consequentemente elogiou a atitude sábia dos que decidem por
realizar um grande empreendimento de forma planejada e de maneira prudente (Lc
14.28-32).
III
– MÉTODOS DE PLANEJAMENTO FAMILIAR E A ÉTICA CRISTÃ
Diante
dos propósitos legítimos do planejamento familiar, tal decisão não deve ser
considerada pecado, desde que seja por meios lícitos e convenientes (1Co 6.12;
10.23,31). Em nossos dias devido ao avanço da medicina, tem sido colocado à
disposição dos casais, vários tipos de métodos para limitar ou adiar a chegada
de filhos, no entanto, o simples fato de uma tecnologia estar disponível não
significa necessariamente que, em termos éticos, é permissível utilizá-la.
Antes, é essencial considerar como as opções disponíveis se alinham com os
princípios bíblicos que devem nortear o processo de decisão. Vejamos alguns dos
mais conhecidos e, sobretudo, os que se alinham a Ética Cristã:
3.1
- Métodos naturais e de barreira. Os métodos naturais têm como base a
fertilidade da mulher, ou seja, dias do mês chamados “dias férteis”, onde é
possível haver a gravidez. Quanto a esse método, que pode ser controlado
através de uma tabela (método de Ogino-Knaus), não há conflito com a ética
cristã. Um problema porém, em relação a esse método, decorre da irregularidade
dos ciclos menstruais de certas mulheres (RENOVATO, 2002, p. 66). Já o método
de barreira tem por objetivo impedir que os espermatozóides consigam chegar ao
óvulo e fecundá-lo, empregando-se os seguintes artefatos: (a) preservativo
(masculino ou feminino); (b) Espermicida (formato de cremes e spray que
imobilizam os espermatozóides); e, (c) Dispositivo intrauterino (DIU), pequeno
objeto em forma de T ou espiral, colocado no interior do útero, que impede ao
óvulo fecundado a sua respectiva implantação no útero. É considerado abortivo
por interromper o processo de gravidez, nesse caso, trata-se de técnica
condenada pelas Escrituras por atentar contra a inviolabilidade da vida
(BAPTISTA, 2018, p.105). Diante disso destacamos que outros métodos como
prostaglandinas e a pílula do dia seguinte, por serem também abortivos,
definitivamente devem ser repudiados.
3.2
- Métodos fisiológicos e os irreversíveis. Os anticoncepcionais orais e
injetáveis pertencem o grupo dos métodos hormonais (fisiológicos), que embora
não firam a ética cristã, mas, por possuírem efeitos colaterais (náuseas,
sonolências, etc), devem ser utilizados com prescrição médica. Recomendando-se
ainda que seja utilizado por necessidade e não por vaidade (Mc 2.17). Quanto
aos métodos irreversíveis estão a laqueadura ou ligação tubária no caso de
mulheres, e no caso dos homens a vasectomia; ambos por serem de naturezas
irreversíveis devem ser feito com bom senso, de forma refletida e em comum
acordo entre os conjunges e com indicação de um médico.
IV
– FALSAS CONCEPÇÕES SOBRE PLANEJAMENTO FAMILIAR
A
falta de entendimento sobre este tema, tem resultado em conceitos equivocados.
Dentre eles, destacamos alguns:
4.1
- Fere o princípio da procriação. Os que se opõe ao planejamento familiar e aos
métodos aconselháveis de limitação de filhos, argumentam que se Deus deu a
ordem: “[…] crescei e multiplicai-vos […]” (Gn 1.28), não é certo limitar o
número de filhos e a mulher deve ter o máximo que puder. Contrariando essa
ideia, a mulher não é fértil todos os dias. O Criador agraciou a mulher com
apenas três dias férteis a cada mês, indicando que ela não tem o dever de gerar
filhos a vida toda (BAPTISTA, 2018, p.110). Devemos considerar ainda, que Deus
não exigiu do homem o tamanho de sua família, e ainda que a quantidade da prole
seja uma condição especial para cumprimento da vontade divina. Portanto, quando
nasce um filho, são três; quando nascem dois filhos, são quatro pessoas a mais
no lar e na terra, e assim por diante (RENOVATO, 2002, p. 58). Destacamos ainda
que algumas pessoas poderão ter muitos filhos como Jacó (Gn 35.23-26; 34.1),
outras terão poucos como Zacarias e Isabel (Lc 1.13), e outras não terão
nenhum, pelos motivos mais variados (Gn 20.18).
4.2
- É condenável pelas Escrituras, por causa do exemplo de Onã. Nesse caso
bíblico relata-se que Er era casado com Tamar e morreu sem deixar descendentes.
Então, Judá, seu pai, ordenou ao seu segundo filho, Onã, que tomasse a viúva
para suscitar com ela descendência ao seu irmão (Gn 38.7,8). Porém, diz o texto
que Onã “toda vez que possuía a mulher do seu irmão, derramava o sêmen no chão
para evitar que seu irmão tivesse descendência” (Gn 38.9b, NVI). Realizava ele
o que hoje é chamado de “coito interrompido”, considerado no texto como um mal
pelo qual o Senhor o matou (Gn 38.10). Contudo, o castigo de Onã não se deu
pelo fato de ele usar um método contraceptivo — aliás, um dos menos eficazes,
mas pela sua postura egoísta por saber que “a descendência não seria sua” (Gn
38.9a, NVI) (BAPTISTA, 2018, p. 108). O caso específico da recusa de Onã em
suscitar descendência para seu irmão, não pode ser usado para estabelecer uma
regra contra os contraceptivos, por várias razões. Primeiramente, sua
desobediência não era ao mandamento geral (Gn 1.28) para ter filhos, mas, sim,
à responsabilidade específica de um irmão sobrevivente no sentido de suscitar
descendência para seus parentes (Dt 25.5) (GEISLER, 2006, p. 160).
4.3
- Viola o propósito do sexo no casamento, que é a procriação. Outro argumento
usado por aqueles que se opõem aos métodos artificiais de planejamento
familiar, é que o propósito básico do sexo (procriação), é impedido pelos
contraceptivos; a procriação é, obviamente, o propósito básico do sexo no
casamento, no entanto, não é o único. Precisamos levar em consideração que o
ato conjugal também foi criado para proporcionar prazer ao casal (Pv 5.15-18;
Ec 9.9), e se Deus estabeleceu que o sexo unifique e satisfaça, além de
multiplicar, logo, não há razão porque alguma forma de controle de nascimento
não possa ser exercida a fim de promover estes outros propósitos do casamento,
sem produzir filhos (GEISLER, 2006, p. 159 - acréscimo nosso).
V
– CONSIDERAÇÕES BÍBLICAS SOBRE PLANEJAMENTO FAMILIAR
Embora
a Bíblia não trate diretamente sobre o assunto de planejamento familiar,
podemos fazer as seguintes afirmações:
5.1
- Filhos são bençãos do Senhor. No Antigo e Novo Testamento a concepção é tida
como um dom de Deus (Gn 4.1; 29.31; 30.22; Jz 13.3; 1Sm 1.5; Sl 113.9; 128.3;
Is 54.1), de modo que ter filhos é considerado sagrado, uma benção divina “Eis
que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão” (Sl
127.3), e uma família numerosa sinal de benevolência do Altíssimo e sinônimo de
felicidade “Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava” (Sl 127.5; ver
Gn 33.5,6).
5.2
- Não gerar filhos por motivos egoístas é pecado. Deixar de gerar filhos não
caracteriza desobediência a uma norma que é “geral”, e não “específica”. Não
gerar filhos não é pecado desde que os motivos alegados não atentem contra a
soberania divina. Do contrário, os solteiros e os viúvos (1 Co 7.8), os eunucos
(Mt 19.12) e os casados estéreis (Lc 23.29) estariam em pecado. E, se fosse
pecado não procriar, até a privação sexual voluntária, autorizada nas Escrituras,
estaria em contradição (1 Co 7.5). Desse modo, gerar ou não filhos, bem como o
fator multiplicador, depende da vontade e do projeto do Senhor para cada
família (BAPTISTA, 2018, p.110). Evitar que uma vida inicie é diferente de
tirar uma vida (1Co 7.17).
5.3
- O planejamento deve ser subordinado à direção divina. Lembremos mais uma vez
que planejar não é pecado. Um erro no entanto, está na presunção em não pedir a
aprovação divina sobre esse quesito (Tg 4.13-15). O casal cristão deve
aconselhar-se com Deus para qualquer decisão a ser tomada (Tg 1.5; 1Jo 5.14),
para o bem-estar da família (1Tm 5.8). Nossas motivações devem ser apresentadas
ao Senhor em oração e devem ser desprovidas de vaidade e de egoísmo (Tg 4.2,3).
CONCLUSÃO
Os
filhos são bençãos do Senhor e não devem ser evitados por razões egoísticas e
utilitaristas. As famílias, porém, que se preocupam em planejar, são mais
bem-sucedidas na criação e no sustento de seus filhos.
REFERÊNCIAS
RENOVATO,
Elinaldo. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. CPAD
BAPTISTA,
Douglas. Valores Cristãos: Enfrentando as Questões de Morais de Nosso Tempo.
CPAD
GEISLER,
Norman. Ética Cristã: Alternativas e Questões Contemporâneas. VIDA NOVA.
http://www.brasil.gov.br/saude/2011/09/planejamento-familiar/
acessado em: 19/04/18.
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