Igreja
Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
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LIÇÃO
07 – ÉTICA CRISTÃ E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS – (1 Co 15.35-45)
2º
TRIMESTRE DE 2018
INTRODUÇÃO
Na
presente lição falaremos sobre a prática da doação de órgãos, destacando sua
importância e necessidade; faremos algumas considerações sobre este
procedimento cirúrgico; trataremos de alguns tipos de transplantes sob a
perspectiva da ética cristã; e, por fim, pontuaremos quais os princípios
bíblicos que devem motivar o cristão a doação.
I
– INFORMAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
A
Medicina evoluiu muito, nos últimos anos. O ramo do transplante de órgãos tão
recente da medicina vem comprovar o formidável progresso das ciências
biofisiológicas. Certo médico afirmou que: “a medicina evoluiu muito mais nos
últimos cinquenta anos do que nos cinquenta séculos que nos precederam” (BERNARD
apud ANDRADE, 2015, p. 122). A doação de órgãos e tecidos consiste na remoção
de órgãos e tecidos do corpo de uma pessoa que recentemente morreu (doador
cadáver) ou de um doador voluntário (doador vivo), com o propósito de
transplantá-lo ou fazer um enxerto em outras pessoas vivas. A doação pode ser
de órgãos (rim, fígado, coração, pâncreas e pulmão) ou de tecidos (córnea,
pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão
umbilical).
1.1
- A importância da doação de órgãos. A doação de órgãos é importante, porque
pode proporcionar as pessoas que recebem a reparação de algum órgão lesado,
concedendo-lhes qualidade de vida e em última instância salvando suas vidas.
Apenas um único doador pode salvar até 10 pessoas ou mais.
1.2
- A necessidade da doação de órgãos. A cada ano que se passa, cresce o número
de necessitados de transplante de algum órgão. A carência de doadores de órgãos
é um grande obstáculo para os transplantes no Brasil. A quantidade ainda é
pequena diante da demanda de pacientes que esperam pela cirurgia. Muitas vezes,
a falta de informação e o preconceito também acabam limitando o número de
doações obtidas de pacientes com morte cerebral. Segundo o Ministério da Saúde,
o Brasil tem 64 mil pacientes na fila de espera por um transplante de órgãos, e
as maiores listas de espera aguardam doações de rim, fígado e pâncreas
(BAPTISTA, 2018, p. 104).
II
– CONSIDERAÇÕES SOBRE A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
A
legislação brasileira sobre doação de órgãos nº 10.211 no capítulo 2 artigo 3º
diz que: “a retirada post mortem (pós morte) de tecidos, órgãos ou partes do
corpo humano, destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de
diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não
participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de
critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal
de Medicina”. No caso de doadores vivos, o artigo 9 parágrafo 3º diz que “só é
permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de
partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o
organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não
represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause
mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade
terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora”. Vejamos algumas
considerações sobre a doação de órgãos:
2.1
- A doação de órgãos em nada compromete os princípios bíblicos. Embora a Bíblia
não trate diretamente da doação de órgãos, pois este ramo da medicina é
bastante recente, não há um indício bíblico que o reprove. Pelo contrário, o
mandamento de “amar o próximo como a si mesmo” (Mt 19.19; Rm 13.9; Gl 5.14), se
encaixa perfeitamente nesse ato de autodoação em prol de outrem. Observemos a
disposição da igreja na Galácia de se doar em prol do apóstolo Paulo, por causa
da sua enfermidade, evidenciando isso: “[…] Porque vos dou testemunho de que,
se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis” (Gl 4.15-b).
João diz que, motivados pelo amor de Cristo “devemos dar a vida pelos irmãos”
(1 Jo 3.16-b). Portanto, “o gesto altruísta de doar órgãos retrata a essência
do cristianismo” (BAPTISTA, 2018, p. 104).
2.2
- Ninguém é forçado a doar seus órgãos. Ninguém deve ser forçado ou coagido a
doar seus órgãos, e nenhum órgão deve ser retirado sem a permissão do doador.
Ninguém tem o direito de fazer a doação de órgãos de outra pessoa contra a
vontade do doador. Para o cristão é preciso destacar que aquele que decide em
sua consciência doar seus órgãos faz muito bem, mas aquele que por algum motivo
não se dispõe a fazer, não peca por isso. Lembremos do princípio de Romanos 14
que diz: “aquele que faz não condene aquele que não faz, porque o que faz, faz
para Deus como também o que não faz, não faz para Deus”.
III
– TIPOS DE TRANSPLANTES E A ÉTICA CRISTÃ
3.1
- O transplante de órgãos artificiais. Não há nenhuma objeção quanto ao
transplante de órgãos artificiais. Assim como já se utiliza ligas metálicas na
recuperação de fraturas graves, já é possível substituir alguns órgãos lesados
do corpo humano por artefatos eletrônicos. A máquina de hemodiálise substitui
os rins; os respiradores eletrônicos os pulmões; e, o coração artificial vem
suprindo de forma razoável o seu papel nas intervenções cirúrgicas. O uso de
bengalas, óculos, pernas e braços mecânicos dentre outros tem suprido algumas
carências humanas. É interessante afirmar que Jesus não condenou recorrer aos
médicos, a fim de tratar-se (Mt 9.12). “Logo, é perfeitamente ético buscar o
desenvolvimento de órgãos artificiais” (ANDRADE, 2015, p. 136).
3.2
- A doação de sangue. Embora não haja nenhum caso na Escritura de transfusão de
sangue, não vemos nenhum mandamento bíblico que a reprove. Observamos também
nessa prática voluntária um gesto de amor e serviço ao próximo, algo que foi
ensinado pelo Senhor Jesus: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”
(At 20.35-b). A única reprovação bíblica se dá quanto a ingestão de sangue, ou
seja, utilizá-lo como alimento. Esta proibição é válida tanto no AT quanto no
NT (Gn 9.4; Lv 3.17; 7.26,27; At 15.20). “A transfusão de sangue é um dos cinco
procedimentos médicos mais realizados em todo o mundo” (BAPTISTA, 2018, p.
105).
3.3
- As células-tronco. O corpo humano possui dois tipos de células-tronco: as
embrionárias e as adultas. O transplante de células-tronco em órgãos lesados
seria capaz de dar origem a células saudáveis, regenerar tecidos e curar as
lesões. As células-tronco adultas são encontradas principalmente na medula
óssea, placenta e cordão umbilical. As células-tronco embrionárias são
encontradas no blastocisto (4 a 7 dias após a fecundação do embrião) e têm a
capacidade de se transformar em qualquer uma das 216 diferentes células do
corpo humano (BATISTA, 2018, pp. 105,106). O problema ético que engloba as
células-tronco embrionárias é a necessidade de matar/descartar o embrião para
poder fazer a replicação desejada, pois elas se formam, após a fusão dos
gametas masculino e feminino. Mesmo na fase de gestação da “substância ainda
informe”, Deus se importa com a criança e a está moldando (Sl 78.5-6;
139.13-16; Jó 31.15; Jó 10.8,11). Embora, os cientistas já façam uso das
células-tronco embrionárias na pesquisa, visando obter a cura de algumas
doenças degenerativas, “entendemos que isso afronta a sacralidade da vida, pois
o embrião é um novo ser humano, programado pelas leis da biologia, para se
desenvolver com sua individualidade” (RENOVATO, 2008, p. 276).
IV
– PRINCÍPIOS BÍBLICOS ENVOLVIDOS NA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Embora
a Bíblia não fale diretamente a respeito da doação de órgãos, entendemos que
tal atitude revela os mais nobres princípios cristãos. Vejamos alguns:
4.1
- Um ato de amor. Teologicamente o amor é a “virtude que nos constrange a
buscar, desinteressada e sacrificialmente, o bem de outrem” (ANDRADE, 2006, p.
42). É a palavra que representa o cristianismo (Jo 13.35). É o amor a Deus e ao
próximo que deve levar-nos a auto doação (Lv 19.18; Jo 15.13; Gl 5.14; 1 Jo
3.16; 1 Jo 4.10,11).
4.2
- Um ato de empatia. A palavra “empatia” segundo o Houaiss (2001, p. 1125)
significa: “capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela
sente [...]”. Quando alguém decide beneficiar outra pessoa doando seus órgãos,
certamente é porque se coloca no lugar de outrem, entendendo a sua aflição,
colocando-se a disposição para aliviar o sofrimento alheio. Tal virtude é
exaltada pelas Escrituras (Jó 29.15; Mt 5.7; Rm 12.15; Lc 6.36; Ef 4.32; 1 Pd
3.8).
4.3
- Um ato de serviço ao próximo. A parábola do bom samaritano (Lc 10.30-37)
destaca a verdade de que compaixão e cuidado para com o próximo é algo que
devemos praticar até mesmo com aqueles que sequer nos conhecem, pois o amor
para com o semelhante não faz distinção de pessoas (Dt 10.17; At 10.34; Rm
2.11; Tg 2.1,9).
4.4 - Um ato que glorifica a Deus. Embora sejamos salvos pela
fé, independente das obras (Ef 2.8), as “boas obras” devem acompanhar aqueles
que foram salvos (Ef 2.10). Jesus ensinou que a nossa luz deve resplandecer
diante dos homens: “[...] para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a
vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). O Pai é glorificado quando damos muito
fruto: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus
discípulos” (Jo 15.8).
CONCLUSÃO
Jesus
ensinou que “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35-b). Doar
ao necessitado é uma forma de colocar a fé em prática (Tg 2.14-17), e, a
prática da doação de órgãos reflete os mais nobres princípios cristãos.
REFERÊNCIAS
ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. As novas fronteiras da Ética Cristã. CPAD.
DOUGLAS,
Baptista. Valores Cristãos: enfrentando as questões morais do nosso tempo. CPAD
GEISLER,
Norman. Ética Cristã: opções e questões contemporâneas. VIDA NOVA.
GILBERTO,
Antonio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Legislação
Brasileira de Transplante de Órgãos. 2002.
STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
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