Igreja
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LIÇÃO
07 – A TEOLOGIA DE BILDADE: SE HÁ SOFRIMENTO HÁ PECADO OCULTO? - (Jó 8.1-4;
18.1-4; 25.1-6)
4º
TRIMESTRE DE 2020
INTRODUÇÃO
Nesta
lição estudaremos sobre quem foi Bildade, um dos amigos de Jó; notaremos os
três discursos dele contra o patriarca; pontuaremos um pouco da sua teologia e
a devida refutação bíblica; analisaremos as contestações de Jó as palavras de
Bildade; e por fim, veremos as causas pelas quais sofremos no mundo.
I
– INFORMAÇÕES SOBRE BILDADE
1.1
- Quem foi Bildade. Segundo o dicionário de Strong o nome de Bildade significa:
“amor confuso”. Não possuímos muitas informações acerca de Bildade. Limita-se a
Bíblia a informar que este amigo de Jó era um suíta. Certamente morava ele em
Canaã, ou em suas imediações, pois:
a)
falava uma língua aparentada a de Jó e a de seus amigos;
b)
não demorou em encontrar-se com Elifaz e Zofar quando combinaram vir consolar o
patriarca;
c)
sua visão de mundo era bem parecida com a de seus dois outros companheiros.
Bildade
um semita que habitava no território cananeu, onde Suá, à semelhança de Temã,
era um dos muitos pequenos reinos ali estabelecidos (ANDRADE, 2011, p. 146).
1.2
- Sua relação com Jó. Bildade é descrito como o segundo dos três amigos de Jó
(Jó, 2.11; 8.1; 18.1; 25.1; 42.9), que veio condoer-se dele, quando soube de sua
aflição, mas que, na verdade, aumentou seu sofrimento (Jó 2.11). Os três
amigos de Jó eram idosos (Jó 32.6) e é bem possível que Bildade fosse o segundo
mais velho, uma vez que seu nome aparece em segundo lugar e ele fala depois de
Elifaz (Jó 8.1-4).
1.3
- Lugar de origem. Quanto ao seu lugar de origem é dito que ele era “suíta”,
provavelmente por ser descendente de um filho de Abraão e Quetura chamado Suá
(Gn 25.2; 1Cr 1.32; Jó 2.11), ou por ter sido membro de uma tribo aramaica que
viveu no sudeste da Palestina (Gn 25.2,6).
1.4
- A teologia de Bildade. Uma teologia do “toma-lá-dá-cá”, ou seja, uma teologia
da barganha que destaca uma meritocracia humana no processo de justificação
diante de Deus as ideias por ele defendidas. Logo, o enfoque de Bildade não é a
graça que flui de Deus, mas o esforço humano que, por mérito próprio, pretende
justificar o homem diante de Deus. Esta era uma demonstração da cultura
gentílica, a ideia da troca de favores. Um moralismo fundamentado na tradição
(Jó 8.5,6). Pode-se descrever Bildade com uma só palavra: legalista. Seu lema
era: “Eis que Deus não rejeita o íntegro, nem toma pela mão os malfeitores” (Jó
8.20).
II
– OS TRÊS DISCURSOS DE BILDADE
2.1
- Primeiro discurso (Jó 8.1-22). Neste capítulo observamos Bildade, dizendo que
Jó não poderia queixar-se de seu sofrimento, pois Deus é justo e jamais traria
tal angústia sobre ele, se pelo menos seus filhos não houvessem pecado (Jó
8.1-3). Bildade foi o primeiro dos três a acusar os filhos de Jó de
transgressão, e por sua vez, de merecerem a calamidade que lhes sobreveio. Se
Jó se arrependesse, Deus restituir-lhe-ia a prosperidade. Os tempos passados
mostram que Deus destrói o perverso e sustenta o justo (Jó 8.5-7; 20-22).
Portanto, seu sofrimento não era injusto, mas punitivo, por algum pecado que Jó
mesmo podia desconhecer.
2.2
- Segundo discurso (Jó 18.1-21). Neste segundo discurso, Bildade declara que os
pecadores recebem apenas miséria nesta vida e desonra após a morte (Jó 18.21).
Assim como Elifaz, Bildade classificou as aflições de Jó como as que sobrevêm
aos perversos.
2.3
- Terceiro discurso (Jó 25.1-6). No terceiro discurso, ele sustenta a majestade
e a perfeição de Deus em supremacia à imperfeição de todas as coisas criadas e
argumentou que o homem é “um verme” e por isso impuro diante de Deus (Jó
25.4-6). As ideias de Bildade idênticas a defendida a milênios depois pelo
deísmo que afirma que Deus criou o mundo, mas ausentou-se dele abandonando suas
criaturas, ferindo até a doutrina da onipresença divina.
III
– A TEOLOGIA DE BILDADE REFUTADA PELA BÍBLIA
3.1
- Não é verdade que se sofremos é porque pecamos. A Bíblia deixa claro que os
sofrimentos vieram sobre o ser humano por causa do pecado original, nem sempre
por causa de um pecado pessoal (Gn 3.16-19). No caso de Jó, de forma nítida,
observamos que ele não havia transgredido contra Deus para passar por tudo
aquilo, muito pelo contrário, é porque era fiel que estava sendo provado por
Deus com tal sofrimento, conforme o testemunho do próprio Deus: “E disse o
Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante
a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal, e que ainda
retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem
causa” (Jó 2.3).
3.2
- Não é verdade que só resta sofrimento para o ímpio na terra. De acordo com a
história sagrada os ímpios podem prosperar financeiramente, às vezes, até mais
que os justos. A geração de Caim, por exemplo, era tecnologicamente
avançadíssima apesar de ímpia (Gn 4.17-22). Asafe observou que os ímpios apesar
de viverem no pecado prosperam (Sl 73.3-12). No entanto, sua prosperidade
material não lhes assegura felicidade plena e vida eterna (Sl 73.16-20).
3.3
- Não é verdade que o homem não possa ser justo diante de Deus apesar de suas
limitações e imperfeições. O homem pode ser relativamente justo, somente Deus pode
ser absolutamente justo. Jó teve testemunho de sua justiça pelo próprio Deus:
“E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na
terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia
do mal” (Jó 1.8 - ACF). Outros servos de Deus também são tidos como justos em
suas gerações, tais como: Daniel e Noé (Ez 14.14).
IV
– AS CONTESTAÇÕES DE JÓ AS PALAVRAS DE BILDADE
4.1
- Jó não se considerava absolutamente justo (Jó 9.1-35). Ao contrário do que
pensava e afirmava Bildade, Jó não se considerava cem por cento justo. Ele
sabia que era um homem com imperfeições: “Na verdade sei que assim é; porque,
como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9.2). No versículo 15 ainda
afirmou: “Porque, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu
Juiz pediria misericórdia” (Jó 9.15). Logo, Bildade estava equivocado. Jó não
acusara Deus de injustiça por fazê-lo sofrer sem aparente causa. Ele apenas não
entendia porque estava passando por tudo aquilo, visto que não tinha
consciência de ter pecado, embora soubesse que era pecador (Jó 10.1,2)
4.2 - Jó não ficava aliviado, com as palavras
de seus amigos (Jó 19.1-29). Os amigos de Jó vieram consolá-lo (Jó 2.11), no
entanto, suas palavras descabidas sobre Deus para tentar aliviar o sofrimento
do patriarca se tornaram como flechas na sua alma, acrescentando-lhe mais dor
(Jó 19.1). Não bastava para eles, que os parentes lhe deixassem, os servos e
servas e sua esposa não suportar o seu hálito por causa da doença (Jó
19.13-19). Diante de tudo isto, Jó rogou que eles tivessem misericórdia e
parassem de acusá-lo: “Compadecei-vos de mim, amigos meus, compadecei-vos de
mim, porque a mão de Deus me tocou” (Jó 19.21). Apesar de tão grande
sofrimento, não perdera sua fé, amor e esperança em Deus: “Porque eu sei que o
meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).
4.3
- Jó reconhece a grandeza de Deus e defende sua integridade (Jó 26.1-14;
27.1-23). Assim como Bildade em seu terceiro discurso louva a Deus (Jó 25.1-6),
Jó também o louva (Jó 26.1-14). No capítulo 27, o patriarca acrescenta que não
manchará seus lábios de forma alguma, conservando sua integridade (Jó 27.1-4).
V
– AS CAUSAS PELAS QUAIS SOFREMOS
A
Bíblia aponta diversas causas pelos quais sofremos. Notemos:
5.1
- Por causa do pecado original. Deus criou tudo perfeito e bom. No entanto, por
causa da Queda, uma das consequências do pecado foi que o sofrimento entrou na
vida humana (Gn 3.17-19).
5.2
- Por causa de pecado pessoal. Não podemos negar que também podemos sofrer
pelas escolhas erradas que tomamos na vida. Israel por diversas vezes por causa
das atitudes erradas que fez (Jr 25.14; Mq 7.13). Diversos personagens bíblicos
colheram o fruto de suas obras (Nm 12.1-10; 2Cr 26.19; At 5.1-6). A lei da
semeadura ainda está em vigor (Gl 6.7).
5.3
- Porque estamos no mundo. O fato de estarmos no mundo, contaminado pelo
pecado, também nos faz sofrer. Jesus conscientizou os seus seguidores desta
árdua verdade: “[...] no mundo tereis aflições [...]” (Jo 16.33).
5.4
- Porque somos crentes. Ser filho de Deus não dá imunidade ao sofrimento. Pelo
contrário, há tribulações que são pertinentes a vida daqueles que servem a Deus
(Mt 5.11,12; At 14.22; 2Tm 3.12), pelo fato de sermos santos num mundo perverso
e por que somos provados para sermos aperfeiçoados (Sl 119.71; 1Pd 4.12),
através do sofrimento tal qual Jó (Jo 23.10; 42.2).
5.5
- Porque Deus permite para moldar nosso caráter. De certa forma a provação deve
até ser acolhida com prazer (Rm 5.3), pois tais provações têm algumas
finalidades. São elas:
a)
mostrar ao homem a sua própria fraqueza e conscientizá-lo de sua dependência
divina (Dt 8.3,16);
b)
aperfeiçoar o seu caráter (Is 48.10);
c)
aprofundar o seu conhecimento em relação a Deus (Jó 42.5);
d)
conceder-lhe experiências (Rm 5.3; 2Co 1.3);
e)
provar e aperfeiçoar a sua fé (1Pd 1.7); e,
f)
corrigir os erros cometidos (Sl 119.67,71; Dt 8.5; Hb 12.6).
CONCLUSÃO
A
Bíblia nunca sugeriu aos crentes que sua vida seria um caminho fácil. Pelo
contrário, adverte-os que se encontrariam envoltos em “várias provações e aflições”
(Jo 16.33; Tg 1.2). Assim, sabemos que enfrentaremos muitas “provas e
tentações”, porém de todas nos livrará o Senhor da glória. Amém!
REFERÊNCIAS
ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
ANDRADE.
Claudionor Corrêa de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito.
CPAD.
GILBERTO,
Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
PFEIFFER,
Charles F. Comentário Bíblico Wycliffe. CPAD.
STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Hagnos.
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