quarta-feira, 28 de outubro de 2020

LIÇÃO 05 – O LAMENTO DE JÓ - (Jó 3.1-26) 4º TRIMESTRE DE 2020

Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco

Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais

Pastor Presidente: Aílton José Alves

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LIÇÃO 05 – O LAMENTO DE JÓ - (Jó 3.1-26)

4º TRIMESTRE DE 2020


INTRODUÇÃO

Nesta lição estudaremos sobre o momento em que Jó quebra o silêncio em uma lamentação pelas adversidades enfrentadas; veremos também a definição do termo lamento à luz do Antigo e Novo Testamento; faremos algumas considerações sobre a lamentação do patriarca; e por fim, quais as lições que podemos extrair do lamento de Jó e sua aplicação para a vida cristã.

I – DEFINIÇÃO DA PALAVRA LAMENTO

A origem da palavra lamento advém do latim“lamentum”, que indica literalmente: “expressão de sofrimento”,e ainda:“ação de lamentar; lamentação; expressão de pesar, de mágoa diante do infortúnio. Ato de se expressar com lamentações, gemidos; pranto, queixa, gemido”. Há cerca de quinze palavras em toda a Bíblia, que indicam o ato de lamentar, entre elas a hebraica: “abal” que indica: “o senso interior de tristeza, lamentação, bater no peito, rasgar, cortar” (Gn 37.34); os termos gregos:“threneo”, e “pentheo”, que significam respectivamente: “entristecer-se, se lamentar”, e ainda: “levantar a voz, chorar em voz alta” (Mt 11.27; Jo 16.20; Mt 5.4; Ap 18.11,15,19) (CHAMPLIN, 2004, p.718 - acréscimo nosso).

II – CONSIDERAÇÕES SOBRE A LAMENTAÇÃO DE JÓ

2.1 - A ocasião do lamento. Durante sete dias iniciais de sofrimento (Jó 2.13; 3.1), Jó não abriu a boca para blasfemar contra Deus, como Satanás havia proposto que faria (Jó 1.11; 2.5), no entanto, ao término destes dias, ele quebrou o silêncio para lamentar: “Depois disto, abriu Jó a boca [...]” (Jó 3.1), entre outras coisas, lamentando o dia do seu próprio nascimento: “E Jó, falando, disse: Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!” (Jó 3.2,3). Achamos algo idêntico no caso de Jeremias, ele também, não podendo resistir à pressão das diferentes provações que iam acumulando-se, deu lugar aos seus sentimentos com estas palavras: “Maldito o dia em que nasci; não seja bendito o dia em que minha mãe me deu à luz” (Jr 20.14). 2.2 A causa do lamento. Devido à avalanche de dificuldades que lhe sobreviera, foram atingidas as principais colunas sobre as quais a vida humana está fundamentada:

(a) família (Jó 1.18,19);

(b) bens materiais (Jó 1.16,17); e,

(c) saúde (Jó 2.7,8).

Jó caiu no abismo de uma profunda desesperança, devido à natureza da adversidade vivenciada e pela não compreensão de o conciliar a sua fidelidade a Deus (Jó 3.26) e o experimentar tamanha dor (Jó 2.13; 3.24). Curiosamente, Jó expôs o receio que tinha em seu coração, de um dia ter que passar por esta experiência, pelo que veio a dizer: “Porque aquilo que temia me sobreveio; e o que receava me aconteceu” (Jó 3.25).

III – ETAPAS DO LAMENTO DE JÓ

3.1 - Jó lamentou pela sua existência. Os dias de dor implacáveis tinham abalado a serenidade de Jó. O patriarca não consegue entender a razão de ter nascido se ele viria a ter tanta miséria. E assim ele protesta contra o dia de seu nascimento: “[...] abriu Jó a sua boca, e amaldiçoou o seu dia” (Jó 3.1). Não obstante, os homens habitualmente celebravam com alegria o retorno anual do dia do seu nascimento, Jó o considerou o dia mais infeliz do ano, por ser o mais infeliz da sua vida, considerando-o como a porta de entrada para toda a sua aflição (Jó 3.10). Nesse lamento, Jó fala da tristeza e sofrimento que se acumulam em seu coração e indagou: “Por que não morri eu desde a madre? E em saindo do ventre, não expirei?” (Jó 3.11). Essa é uma pergunta que, nos momentos de dor, já foi feita aos prantos por muitos filhos de Deus, entre esses, o profeta Jeremias (Jr 20.14-18).

3.2 - Jó lamentou pela preservação de sua vida. Como se não bastasse Jó amaldiçoar o dia do seu nascimento, ele, também, expressou o seu desejo de que, não deveria mais estar vivo, ou seja, ele se incomodava com a preservação da sua vida, e por isso estivesse passando por tal sofrimento (Jó 3.12,13; 6.9; 7.15,16; 14.13). Jó se sentiu preso, cercado como um pássaro na gaiola. Para Jó, morrer seria libertar-se dessa situação. É assim, que algumas vezes, nos sentimos em momentos de provação intensa como o profeta Elias (1 Rs 19.4). Destacamos, porém, que em momento algum, Jó fala de dar cabo da própria vida. A lamentação pelo nascimento ou o anseio pelo fim da vida, proferida por ele não é uma apologia ao suicídio nem à eutanásia, mas sim, a declaração de um homem cujo sofrimento era tão intenso que ele desejou jamais ter nascido.

3.3 - Jó lamentou pela prolongação de sua vida. Num misto de sentimentos, Jó critica a providência divina como sendo injusta e impiedosa ao prolongar a vida quando os seus confortos são retirados: “Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo?” (Jó 3.20). Ele considera injusto, de maneira geral, que vidas miseráveis fossem prolongadas (Jó 3.21). No livro de Jó, a vida é chamada de luz, porque é agradável e útil para se caminhar e trabalhar, e dito que essa luz nos é concedida; pois, não fora ela prolongada diariamente por uma nova dádiva, se consumiria. Mas Jó considera que para aqueles que estão na miséria é uma dádiva sem a qual eles estariam melhor, uma vez que, a luz só lhes serve para, através dela, verem a sua própria miséria (Jó 3.23,24) (HENRY, 2010, p.22).

3.4 - Jó lamentou pela falta de ânimo em continuar vivendo. Em seu estado de aflição, os transtornos eram incessantemente sentidos. Jó acreditava que tinha motivos suficientes para estar cansado de viver, pois:

(a) não tinha nenhum consolo em sua vida: “Porque antes do meu pão vem o meu suspiro [...]” (Jó 3.24-a). As tristezas impediam e antecipavam-se aos sustentos da vida; além disso, elas afastavam o apetite que ele deveria sentir por seu alimento necessário. E ainda mais, tão grande era a extensão da sua dor e da sua agonia que ele não somente suspirava, mas gemia: “[...] e os meus gemidos se derramam como água” (Jó 3.24-b) e,

(b) não tinha nenhuma perspectiva de melhora da sua situação: “[...] cujo caminho está escondido, e a quem Deus cercou de todos os lados?(Jó 3.23 - ARA). Ele não via nenhum caminho aberto em direção à libertação, nem sabia que rumo deveria tomar; o seu caminho foi cercado com espinhos, para que não pudesse encontrar a sua vereda(Jó 23.8; Lm3.7).

IV - LIÇÕES EXTRAÍDAS DO LAMENTO DE JÓ

4.1 - Os servos de Deus devem superaras crises pessoais que venham a enfrentar. Sobre o patriarca Jó, o apóstolo Tiago escreveu: “[...]Ouvistes da paciência de Jó [...] (Tg 5.11), mas percebemos que essa paciência não foi em todo momento. Ficamos admirados que um homem seja tão paciente como ele fora (caps. 1 e 2), mas nos surpreende também que um homem bom seja tão impaciente como é no capitulo três de seu livro; que foi escrito para ensinar, não para que o imitemos nesse quesito, mas como uma advertência (Rm 15.3) para que aquele que cuida estar em pé, vigie para que não caia (1Co 10.12). É comum entre os servos de Deus enfrentar altos e baixos, quando estão em intensa pressão ou quando não compreendem determinados processos em sua vida, foi assim com:

(a) Abraão (Gn 15.1-3);

(b) Asafe (Sl 73.1-9,13-16);

(c) Elias (1Rs 19.2-4); e,

(d) Paulo (2Co 1.8).

Mas todos em comum superaram tais crises confiando na graça de Deus (2Co 12.9).

4.2 - O sofrimento não pode ofuscar a percepção das bênçãos de Deus. Não podemos permitir que os infortúnios desta vida, tirem de nós a gratidão por todas as dádivas advindas do Criador: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes [...]” (Tg 1.17), a vida é um dom divino para nós: “[...] pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração [...]” (At 17.25), resultante da ação direta de Deus: “Antes que eu te formasse no ventre te conheci [...]” (Jr 1.5; ver Sl 139.14-16), de modo que a existência e preservação da vida, são bênçãos que não podem ser desvalorizadas: “[...] porque nEle vivemos, e nos movemos, e existimos [...]” (At 17.28). A ingratidão não pode achar guarida no coração dos servos de Deus (Sl 103.2), que embora sejam profundamente provados ainda têm motivos diversos para continuarem louvando ao Senhor, como fez o profeta Habacuque:“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado.Todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação” (Hc 3.17,18).

4.3 - No momento de angústia precisamos continuar crendo no cuidado divino. Em meio as grandes dificuldades a recomendação bíblica é continuar crendo em Deus (Mc 5.36), não permitindo que o desespero tome conta da situação, “Porque andamos por fé, e não por vista” (2Co 5.7), de modo que, a esperança cristã não estar fundamentada nas circunstâncias (Rm 8.24,25) ou nos bens materiais (1Tm 6.17), mas sim em Deus (1Pe 1.21). Confiar no cuidado de Deus é necessário porque:

(a) é um remédio contra a ansiedade (1Pe 5.7);

(b) Deus tem o controle de tudo (Rm 8.26);

(c) cada luta tem começo e fim (Sl 30.5); e,

(d) o sofrimento é pedagógico (Rm 5.3-5; Tg 1.2-4).

CONCLUSÃO

O lamento de Jó destaca não só a natureza da sua adversidade como mostra a sua fragilidade como ser humano, a despeito de suas virtudes atestadas pelo próprio Deus, o patriarca revelou por meio de sua lamentação a sua extrema necessidade de confiar ainda mais em Deus.

REFERÊNCIAS

CHAMPLIN, Russel,Norman.Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.

HENRY, Mattew. Comentário Bíblico Antigo Testamento Jó a Cantares. Vol 3.CPAD.

WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Vol. 3. GEOGRAFICA.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

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