Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
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LIÇÃO
05 – O LAMENTO DE JÓ - (Jó 3.1-26)
4º
TRIMESTRE DE 2020
INTRODUÇÃO
Nesta
lição estudaremos sobre o momento em que Jó quebra o silêncio em uma lamentação
pelas adversidades enfrentadas; veremos também a definição do termo lamento à
luz do Antigo e Novo Testamento; faremos algumas considerações sobre a
lamentação do patriarca; e por fim, quais as lições que podemos extrair do
lamento de Jó e sua aplicação para a vida cristã.
I
– DEFINIÇÃO DA PALAVRA LAMENTO
A
origem da palavra lamento advém do latim“lamentum”, que indica literalmente:
“expressão de sofrimento”,e ainda:“ação de lamentar; lamentação; expressão de
pesar, de mágoa diante do infortúnio. Ato de se expressar com lamentações,
gemidos; pranto, queixa, gemido”. Há cerca de quinze palavras em toda a Bíblia,
que indicam o ato de lamentar, entre elas a hebraica: “abal” que indica: “o
senso interior de tristeza, lamentação, bater no peito, rasgar, cortar” (Gn
37.34); os termos gregos:“threneo”, e “pentheo”, que significam
respectivamente: “entristecer-se, se lamentar”, e ainda: “levantar a voz,
chorar em voz alta” (Mt 11.27; Jo 16.20; Mt 5.4; Ap 18.11,15,19) (CHAMPLIN, 2004,
p.718 - acréscimo nosso).
II
– CONSIDERAÇÕES SOBRE A LAMENTAÇÃO DE JÓ
2.1
- A ocasião do lamento. Durante sete dias iniciais de sofrimento (Jó 2.13;
3.1), Jó não abriu a boca para blasfemar contra Deus, como Satanás havia
proposto que faria (Jó 1.11; 2.5), no entanto, ao término destes dias, ele
quebrou o silêncio para lamentar: “Depois disto, abriu Jó a boca [...]” (Jó
3.1), entre outras coisas, lamentando o dia do seu próprio nascimento: “E Jó,
falando, disse: Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi
concebido um homem!” (Jó 3.2,3). Achamos algo idêntico no caso de Jeremias, ele
também, não podendo resistir à pressão das diferentes provações que iam
acumulando-se, deu lugar aos seus sentimentos com estas palavras: “Maldito o
dia em que nasci; não seja bendito o dia em que minha mãe me deu à luz” (Jr
20.14). 2.2 A causa do lamento. Devido à avalanche de dificuldades que lhe
sobreviera, foram atingidas as principais colunas sobre as quais a vida humana
está fundamentada:
(a)
família (Jó 1.18,19);
(b)
bens materiais (Jó 1.16,17); e,
(c)
saúde (Jó 2.7,8).
Jó
caiu no abismo de uma profunda desesperança, devido à natureza da adversidade
vivenciada e pela não compreensão de o conciliar a sua fidelidade a Deus (Jó
3.26) e o experimentar tamanha dor (Jó 2.13; 3.24). Curiosamente, Jó expôs o
receio que tinha em seu coração, de um dia ter que passar por esta experiência,
pelo que veio a dizer: “Porque aquilo que temia me sobreveio; e o que receava
me aconteceu” (Jó 3.25).
III
– ETAPAS DO LAMENTO DE JÓ
3.1
- Jó lamentou pela sua existência. Os dias de dor implacáveis tinham abalado a
serenidade de Jó. O patriarca não consegue entender a razão de ter nascido se
ele viria a ter tanta miséria. E assim ele protesta contra o dia de seu
nascimento: “[...] abriu Jó a sua boca, e amaldiçoou o seu dia” (Jó 3.1). Não
obstante, os homens habitualmente celebravam com alegria o retorno anual do dia
do seu nascimento, Jó o considerou o dia mais infeliz do ano, por ser o mais
infeliz da sua vida, considerando-o como a porta de entrada para toda a sua
aflição (Jó 3.10). Nesse lamento, Jó fala da tristeza e sofrimento que se
acumulam em seu coração e indagou: “Por que não morri eu desde a madre? E em
saindo do ventre, não expirei?” (Jó 3.11). Essa é uma pergunta que, nos
momentos de dor, já foi feita aos prantos por muitos filhos de Deus, entre
esses, o profeta Jeremias (Jr 20.14-18).
3.2
- Jó lamentou pela preservação de sua vida. Como se não bastasse Jó amaldiçoar
o dia do seu nascimento, ele, também, expressou o seu desejo de que, não
deveria mais estar vivo, ou seja, ele se incomodava com a preservação da sua
vida, e por isso estivesse passando por tal sofrimento (Jó 3.12,13; 6.9; 7.15,16;
14.13). Jó se sentiu preso, cercado como um pássaro na gaiola. Para Jó, morrer
seria libertar-se dessa situação. É assim, que algumas vezes, nos sentimos em
momentos de provação intensa como o profeta Elias (1 Rs 19.4). Destacamos,
porém, que em momento algum, Jó fala de dar cabo da própria vida. A lamentação
pelo nascimento ou o anseio pelo fim da vida, proferida por ele não é uma
apologia ao suicídio nem à eutanásia, mas sim, a declaração de um homem cujo
sofrimento era tão intenso que ele desejou jamais ter nascido.
3.3
- Jó lamentou pela prolongação de sua vida. Num misto de sentimentos, Jó
critica a providência divina como sendo injusta e impiedosa ao prolongar a vida
quando os seus confortos são retirados: “Por que se dá luz ao miserável, e vida
aos amargurados de ânimo?” (Jó 3.20). Ele considera injusto, de maneira geral,
que vidas miseráveis fossem prolongadas (Jó 3.21). No livro de Jó, a vida é
chamada de luz, porque é agradável e útil para se caminhar e trabalhar, e dito
que essa luz nos é concedida; pois, não fora ela prolongada diariamente por uma
nova dádiva, se consumiria. Mas Jó considera que para aqueles que estão na
miséria é uma dádiva sem a qual eles estariam melhor, uma vez que, a luz só
lhes serve para, através dela, verem a sua própria miséria (Jó 3.23,24) (HENRY,
2010, p.22).
3.4
- Jó lamentou pela falta de ânimo em continuar vivendo. Em seu estado de
aflição, os transtornos eram incessantemente sentidos. Jó acreditava que tinha
motivos suficientes para estar cansado de viver, pois:
(a)
não tinha nenhum consolo em sua vida: “Porque antes do meu pão vem o meu
suspiro [...]” (Jó 3.24-a). As tristezas impediam e antecipavam-se aos
sustentos da vida; além disso, elas afastavam o apetite que ele deveria sentir
por seu alimento necessário. E ainda mais, tão grande era a extensão da sua dor
e da sua agonia que ele não somente suspirava, mas gemia: “[...] e os meus
gemidos se derramam como água” (Jó 3.24-b) e,
(b)
não tinha nenhuma perspectiva de melhora da sua situação: “[...] cujo caminho
está escondido, e a quem Deus cercou de todos os lados?(Jó 3.23 - ARA). Ele não
via nenhum caminho aberto em direção à libertação, nem sabia que rumo deveria
tomar; o seu caminho foi cercado com espinhos, para que não pudesse encontrar a
sua vereda(Jó 23.8; Lm3.7).
IV
- LIÇÕES EXTRAÍDAS DO LAMENTO DE JÓ
4.1
- Os servos de Deus devem superaras crises pessoais que venham a enfrentar.
Sobre o patriarca Jó, o apóstolo Tiago escreveu: “[...]Ouvistes da paciência de
Jó [...] (Tg 5.11), mas percebemos que essa paciência não foi em todo momento.
Ficamos admirados que um homem seja tão paciente como ele fora (caps. 1 e 2),
mas nos surpreende também que um homem bom seja tão impaciente como é no
capitulo três de seu livro; que foi escrito para ensinar, não para que o imitemos
nesse quesito, mas como uma advertência (Rm 15.3) para que aquele que cuida
estar em pé, vigie para que não caia (1Co 10.12). É comum entre os servos de
Deus enfrentar altos e baixos, quando estão em intensa pressão ou quando não
compreendem determinados processos em sua vida, foi assim com:
(a)
Abraão (Gn 15.1-3);
(b)
Asafe (Sl 73.1-9,13-16);
(c)
Elias (1Rs 19.2-4); e,
(d) Paulo (2Co 1.8).
Mas todos em comum superaram tais crises confiando na graça de
Deus (2Co 12.9).
4.2
- O sofrimento não pode ofuscar a percepção das bênçãos de Deus. Não podemos
permitir que os infortúnios desta vida, tirem de nós a gratidão por todas as
dádivas advindas do Criador: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto,
descendo do Pai das luzes [...]” (Tg 1.17), a vida é um dom divino para nós:
“[...] pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração [...]” (At 17.25),
resultante da ação direta de Deus: “Antes que eu te formasse no ventre te
conheci [...]” (Jr 1.5; ver Sl 139.14-16), de modo que a existência e preservação
da vida, são bênçãos que não podem ser desvalorizadas: “[...] porque nEle
vivemos, e nos movemos, e existimos [...]” (At 17.28). A ingratidão não pode
achar guarida no coração dos servos de Deus (Sl 103.2), que embora sejam
profundamente provados ainda têm motivos diversos para continuarem louvando ao
Senhor, como fez o profeta Habacuque:“Ainda que a figueira não floresça, nem
haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não
produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos
currais não haja gado.Todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da
minha salvação” (Hc 3.17,18).
4.3
- No momento de angústia precisamos continuar crendo no cuidado divino. Em meio
as grandes dificuldades a recomendação bíblica é continuar crendo em Deus (Mc
5.36), não permitindo que o desespero tome conta da situação, “Porque andamos
por fé, e não por vista” (2Co 5.7), de modo que, a esperança cristã não estar
fundamentada nas circunstâncias (Rm 8.24,25) ou nos bens materiais (1Tm 6.17),
mas sim em Deus (1Pe 1.21). Confiar no cuidado de Deus é necessário porque:
(a)
é um remédio contra a ansiedade (1Pe 5.7);
(b)
Deus tem o controle de tudo (Rm 8.26);
(c)
cada luta tem começo e fim (Sl 30.5); e,
(d)
o sofrimento é pedagógico (Rm 5.3-5; Tg 1.2-4).
CONCLUSÃO
O
lamento de Jó destaca não só a natureza da sua adversidade como mostra a sua
fragilidade como ser humano, a despeito de suas virtudes atestadas pelo próprio
Deus, o patriarca revelou por meio de sua lamentação a sua extrema necessidade
de confiar ainda mais em Deus.
REFERÊNCIAS
CHAMPLIN,
Russel,Norman.Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
HENRY,
Mattew. Comentário Bíblico Antigo Testamento Jó a Cantares. Vol 3.CPAD.
WIERSBE.
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Vol. 3. GEOGRAFICA.
STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
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