terça-feira, 28 de agosto de 2018

LIÇÃO 10 – OFERTAS PACÍFICAS PARA UM DEUS DE PAZ – (Lv 7.11-21) 3º TRIMESTRE DE 2018


Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais
Pastor Presidente: Aílton José Alves
Av. Cruz Cabugá, 29 - Santo Amaro - Recife-PE / CEP. 50.040.000 Fone: 3084.1524 / 3084.1543

LIÇÃO 10 – OFERTAS PACÍFICAS PARA UM DEUS DE PAZ – (Lv 7.11-21)
3º TRIMESTRE DE 2018

INTRODUÇÃO
Nesta lição falaremos detalhadamente de uma das cinco ofertas do sistema levítico – a oferta pacífica; trataremos de três aspectos desta oferta, a saber: ações de graças, voto e a oferta voluntária; pontuaremos quais as especificações da oferta de paz; e, por fim, traremos as devidas aplicações para a igreja.

I – DEFINIÇÃO DE OFERTA PACÍFICA
A expressão “oferta pacifica” no hebraico: “shalom” significa: “paz, bem, feliz, tranquilo, saúde e prosperidade”. Era também chamada de “oferta de paz” ou de “ofertas de comunhão”. Josefo (historiador judeu do primeiro século) também chamava-a de “ofertas de agradecimento” (JOSEFO apud CHAMPLIN, 2001, p. 487). Tais termos denotam que esta oferta não era para pacificar a Deus, mas era apresentada pelo ofertante que já estava em comunhão com Deus. Nesta oferta, podia se oferecer “gado” (Lv 3.1); ou “gado miúdo” (Lv 3.6) tais como: “cordeiro” (Lv 3.7) ou “cabra” (Lv 3.12); podendo ser “macho ou fêmea” (Lv 3.1,7,12), desde que fosse “sem defeito” (Lv 3.1,6). O ofertante tinha de impor a mão sobre a cabeça da sua oferta (Lv 3.2,8,13), matar o animal e apresentar ao sacerdote os pedaços a serem oferecidos (Lv 3.3,4,9,10,14,15). Em seguida, o sacerdote ministrante os queimava no altar (Lv 3.5,11,16). A outra parte da carne fazia parte da refeição (Lv 7.14,15,16). Quanto a “gordura” e ao “sangue”, estes dois, não poderiam jamais ser comidos, mas oferecidos ao Senhor como oferta queimada (Lv 3.16,17).

II – TIPOS DE OFERTA PACÍFICA
Os sacrifícios pacíficos tinham três variedades, a saber: “ofertas de ações de graças” (Lv 7.12), “ofertas votivas” (Lv 7.16) e “ofertas voluntárias” (Lv 7.29). Vejamos cada um destas detalhamente:

2.1 - Ações de graças. O primeiro tipo era oferecido por benefícios recebidos de Deus. A dádiva de ações de graças no hebraico “tôdâ” representava o reconhecimento do ofertante quanto às misericórdias de Deus para com ele (Lv 7.12-21). Embora todas as coisas pertençam a Deus em última análise, seu relacionamento com o crente exige que este último transfira a Deus uma certa proporção daquelas coisas que foram confiadas a ele (1 Cr 29.14). Esta exigência remove o relacionamento espiritual de um nível puramente verbal, e exige esforço do participante humano para sua dedicação ser posta em prática. Juntamente com a oferta de ações de graças vários tipos de “bolos asmos”, “coscorões ázimos”, e, “bolos de flor de farinha” deviam ser apresentados (Lv 7.12,13), um dos quais era a porção do Senhor e era dado ao sacerdote oficiante (Lv 7.14). Nesta oferta o adorador não tinha licença de deixar qualquer parte da carne do animal sacrificial para outro dia mas, sim, era-lhe exigido que a comece na ocasião em que foi oferecida (Lv 7.15).

2.2 - Voto. Esta oferta é chamada no hebraico “neder” era feita para cumprir um voto (Lv 7.16; 22.21). O sacrifício do seu voto “oferta votiva” era prometido a Deus na esperança de receber ajuda divina (Sl 66.13,14; 116.1-19). Um voto é “um juramento ou um compromisso de caráter religioso, e também uma transação qualquer entre o homem e Deus, de acordo com a qual o individuo dedica a si mesmo ou o seu serviço ou alguma coisa valiosa a Deus (Gn 28.20; Nm 6.2; 1 Sm 1.11). Essa era uma característica comum entre os israelitas (Lv 7.16; 22.18,21; Nm 6.2,5; 15.3,8; 21.2; 29.39; 30.2-9,11-14; Dt 12.6,11,17,26; 23.18,21; Jz 11.30,39; 1 Sm 1.21; 2 Sm 15.7,8; Jó 22.27; Sl 22.25; 50.14; 56.12; Pv 7.14; Ec 5.4; Is 19.21; Jr 44.25; Jn 1.16; Na 1.15)” (CHAMPLIN, 2004, p. 689 – acréscimo nosso).

2.3 - Oferta voluntária. A oferta “voluntária” (Lv 7.28-30) ou oferta “movida” (Lv 7.30), no hebraico “nedãbâ” consistia em um ato de homenagem e obediência ao Senhor num caso em que nenhum voto tinha sido feito, mas que o ofertante desejava voluntariamente ofertar ao Senhor: “as suas próprias mãos trarão [...]” (Lv 7.30-a). Embora os sacerdotes receberam instruções no sentido de se assegurarem que todas ofertas sejam sem defeito, e o catálogo das incapacidades físicas que desqualificavam os descendentes do serviço no santuário é aplicado aos animais sacrificiais (Lv 22.22,24). A única exceção é a dos animais que aparentemente exibem danos “genéticos”, ou seja, “não físicos”, e até mesmo estes podem ser sacrificados somente por oferta voluntária (Lv 22.21,23). Para uma oferta voluntária ou uma que era feita para cumprir um voto, o ofertante tinha licença de usar um dia adicional para completar a festa, e, nesta ocasião provavelmente convidaria amigos para participarem da refeição (Dt 12.12). Especificamente qualquer carne que permanecia depois daquele tempo tinha de ser queimada, mais provavelmente como uma medida higiênica (Lv 7.17). O descumprimento desta ordem consistia em pecado resultando em morte (Lv 7.18).

III – CARACTERÍSTICAS DA OFERTA PACÍFICA
No Livro de Levítico há instruções detalhadas sobre quando as ofertas pacíficas eram comidas (Lv 7.15-17), quem poderia comê-las (Lv 7.20,21), o que podia ser comido (Lv 7.24-26) e, quais porções pertenciam a quem (Lv 7.31-35). Abaixo, destacaremos algumas características da oferta de paz que a diferencia das outras. Vejamos:

3.1 - Uma oferta queimada ao Senhor. A oferta pacífica era “oferta queimada ao Senhor”, no entanto, apenas parte da oferta deveria ser queimada (Lv 3.3,4,9,10,14,15). A especificação é que a “gordura, os rins e o redenho” deveriam ser oferecidos para o Senhor (Lv 3.3,4).

3.2 - Uma oferta que o sacerdote ministrante se alimentava. Algumas ofertas, apesar de serem oferecidas ao Senhor, serviam de alimento para os sacerdotes (Lv 2.3,10). Deus, como sempre, se preocupou com o sustento daqueles que vivem exclusivamente para a obra. Falando especificamente da “oferta pacífica” como havia muitos sacerdotes, aquele que ministrava esta oferta era quem deveria comer dela, como uma recompensa pelo seu trabalho (Lv 7.14,31,32,34-35).

3.3 - Uma oferta que o ofertante se alimentava com sua família. Na oferta pacífica apenas uma parte era queimada ao Senhor (Lv 3.5,11,16), enquanto que a outra parte o adorador reunia-se ao sacerdote na refeição sacrificial, daquilo que restava. Portanto, este era o único sacrifício em que o ofertante tinha licença de participar (Lv 7.14,15).

3.4 - Uma oferta que os pobres podiam participar e outros convidados. Além do sacerdote oficiante, o adorador, os membros de sua família; as pessoas pobres que fossem convidadas podiam também participar “E vos alegrareis perante o SENHOR vosso Deus, vós, e vossos filhos, e vossas filhas, e os vossos servos, e as vossas servas, e o levita que está dentro das vossas portas; pois convosco não tem parte nem herança” (Dt 12.12).

IV – A OFERTA PACÍFICA E A SUA APLICAÇÃO PARA A IGREJA
Em Levítico, são listados cinco tipos de sacrifícios (Lv 1.3-17; 2.1-16; 3.1-17; 4.1-5; 5.14-16). Todos estes sacrifícios podem ser reduzidos a somente dois:

(a) o primeiro, abrangendo aqueles sacrifícios oferecidos antes da reconciliação e os que visavam obtê-la; e,
(b) o segundo, os sacrifícios oferecidos depois da reconciliação e para celebrá-la.
Isto aponta para uma verdade bem clara no NT, o sacrifício pelo pecado foi efetuado por Cristo (Gl 1.4; 2.20; Ef 5.2,25; 1 Tm 2.6; Tt 2.14; Hb 9.14), por meio do qual temos paz com Deus (Rm 5.1; Cl 1.20); o sacrifício por gratidão pela absolvição é feita pelo pecador redimido. Vejamos:

4.1 - Ações de graças. O termo “ações de graças” ou seja é o ato de dar “graças a Deus”. Jesus deixou-nos o grande exemplo de ações de graças (Mt 11.25; 26.27; Jo 6.11; 11.41). Os seres celestiais ocupam-se desse ato de devoção (Ap 4.9; 7.11,12; 11.16,17). Trata-se de um ato de devoção ordenado por Deus (Sl 50.25; Fp 4.6 e 1 Ts 5.18). Trata-se de coisa boa, sendo benéfica para quem se mostra grato ao Senhor (Sl 92.1). Deve ser expressa a gratidão a Deus (Sl 50.14), a Cristo (1 Tm 1.12), em nome de Cristo (Ef 5.20), na adoração pública (Sl 35.18), na adoração individual (Dn 6.10), em tudo (1 Ts 5.18), por todas as coisas (Ef 5.20). Devem ser expressas contínuas ações de graças (Ef 1.16; 5.20 e 1 Ts 1.2). Devem ser expressas ações de graças pela bondade e pela misericórdia de Deus (Sl 106.1; 107.1; 136.1-3). Devem ser dadas ações de graças ante o sucesso em qualquer empreendimento (Ne 12.31,40). Também pelo suprimento das necessidades físicas, e antes das refeições (Jo 6.11; At 27.35). Por causa do grande dom de Cristo (2 Co 9.15).

4.2 - Voto. A prática do “voto” não é exclusivamente judaica, mas também cristã. Ainda hoje nós podemos fazer votos ao Senhor. É bom destacar que:

(a) o voto não obriga Deus a conceder o que pedimos, pois Deus não faz nada contra a Sua vontade (1 Jo 5.14);
(b) o voto não pode ser confundido com barganha, pois Deus não se submete a isso (Dt 10.17; 2 Cr 19.7);
(c) não devemos votar e não cumprirmos (Pv 20.25; Ec 5.4); e,
(d) o voto, deve ser feito como expressão de gratidão a Deus, por uma bênção que se almeja receber (Sl 22.25; 61.8; 76.11; 116.14,18; Pv 7.14).

Quanto ao voto de consagração da própria vida ao Senhor, há uma grande diferença entre os votos do AT e do NT. Os primeiros eram uma obrigação passageira (Nm 6.1-21), ao passo que na Nova Aliança sempre envolve uma relação permanente com Cristo e sua cruz até a morte: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1). Veja também: (Mt 16.24; Rm 6.13; 1 Co 6.20; 1 Pd 1.15-19).

4.3 - Oferta voluntária. A expressão “oferta voluntária” indica que as demais ofertas eram exigidas por Deus, enquanto que estava ficava a cargo da voluntariedade do ofertante (Lv 22.21; 23.38; 15.3). Esta oferta voluntária tem diversas aplicações para a vida cristã. Por exemplo:

(a) devemos ofertar o nosso louvor, não como uma obrigação religiosa, mas com voluntariedade (Sl 54.6; 119.108);
(b) o crente não deve se limitar apenas a entregar os seus dízimos o que é uma exigência bíblica (Gn 14.18-20; 28.18-22; Nm 18.21-32; Dt 12.1-14; 14.22-29; Pv 3.9; Ml 3.10; Mt 23.23; 1 Co 9.9-14); ele também deve ofertar com liberalidade e alegria: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7).

CONCLUSÃO
O sacrifício pelo pecado foi provido pelo próprio Deus, quando nos enviou Cristo Jesus. Agora, tendo paz com Deus, nós cristãos podemos lhe oferecer ações de graças, como gratidão por todos os benefícios que dEle temos recebido.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado – Gênesis a Números. HAGNOS.  HARRISON, R.K. Levítico: MUNDO CRISTÃO.
HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa.
OBJETIVA.  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

LIÇÃO 09 – JESUS, O HOLOCAUSTO PERFEITO – (Lv 1.1-9) 3º TRIMESTRE DE 2018


Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais
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LIÇÃO 09 – JESUS, O HOLOCAUSTO PERFEITO – (Lv 1.1-9)
3º TRIMESTRE DE 2018

INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos uma definição da palavra holocausto à luz das Escrituras Sagradas; veremos também, algumas características da oferta de holocausto dentro do sistema levítico; e por fim, destacaremos algumas marcas do sacrifício de Cristo, que o faz ser o holocausto perfeito.

I – A PALAVRA HOLOCAUSTO À LUZ DAS ESCRITURAS
1.1 - Definição etimológica. Cerca de 290 vezes a palavra holocausto aparece nas Escrituras, englobando tanto a forma singular (199 vezes), como a forma plural (91 vezes), sendo que, a maior ocorrência do termo está no livro de Levítico (62 vezes) (OLIVEIRA, sd, pp. 532,533). A expressão holocausto aparece pela primeira vez na Bíblia, atrelada a história de Noé: “E edificou Noé um altar ao SENHOR; e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave limpa, e ofereceu holocausto sobre o altar” (Gn 8.20). A palavra hebraica traduzida como holocausto é: “olah”, e significa literalmente: “aquilo que vai para cima”. O dicionário Vine (2002, p. 692), lembra que no grego o termo advém de: “holokautõma” (Mc 12.33; Hb 10.6,8) e que denota: “oferta queimada por inteiro”, formado de “holos”, “inteiro”, e “kautos”, em lugar de “kaustos”, adjetivo verbal de “kaiõ”, que quer dizer: “queimar”.

1.2 - Descrição bíblica. A oferta do holocausto, também chamada de oferta queimada (Lv 1.9), era inteiramente consumida sobre o altar (Lv 6.9), com exceção da pele do animal (Lv 7.8), e das entranhas com os resíduos de comida (Lv 1.16). Esse sacrifício era oferecido a Deus como ato de adoração (1Cr 29.20,21), em ação de graças (Sl 66.13-15), para obter algum favor (Sl 20.3-5) e, em diversos ritos de purificação (Lv 12.6-8; 14.19,21,22; 15.15,30; 16.24; Jó 1.5). Era o único sacrifício regularmente estabelecido para o culto no santuário e era oferecido diariamente, de manhã e à noite por isso era chamado de o sacrifício “tãmíd”, ou seja, perpétuo, contínuo (Êx 29.38-42; Ez 46.13; Dn 8.11; 11.31) (TENNEY, vl. 03, p. 63 – acréscimo nosso). Deveriam ser apresentados como sacrifício de holocausto, animais específicos (Lv 1.2,10,14), sendo macho ou fêmea sem defeito (Lv 1.3,10; 3.1; 4.28; 22.19;21).

II – CARACTERÍSTICAS DO SACRIFÍCIO DE HOLOCAUSTO
2.1 - Voluntário. A oferta de holocausto como podemos notar, tratava-se de um sacrifício voluntário, isto é, a pessoa trazia de maneira livre e espontânea o animal que seria oferecido ao Senhor: “Quando algum de vós oferecer oferta ao SENHOR […]” (Lv 1.2; ver 1Sm 7.9; 13.9; Sl 20.3), conforme sempre são as ofertas mais altamente motivadas, e era apresentada pelo ofertante à porta da tenda da congregação (Lv 1.3,5).

2.2 - Substitutivo. Um ato orientado por Deus no ritual da oferta de holocausto, era: “E porá a sua mão sobre a cabeça do holocausto […]” (Lv 1.4), prescrição essa determinada para todos os sacrifícios de animais. Compare a mesma ocorrência na oferta de paz (Lv 3.2), na oferta pelo pecado (Lv 4.4), no oferecimento do carneiro da consagração (Lv 8.22), no ritual do Dia da Expiação (Lv 16.21), e até na apresentação dos levitas (Nm 8.10), exceto quando o sacrifício era de aves (Lv 14.4,14-17,49). O adorador deveria colocar a mão sobre o animal a ser sacrificado (Lv 1.4), gesto que simbolizava duas coisas: (a) a identificação do ofertante com o sacrifício; e, (b) a transferência de algo para o sacrifício. No caso do holocausto, o ofertante estava dizendo: “Assim como esse animal é entregue inteiramente a Deus no altar, também eu me entrego inteiramente ao Senhor”. Nos sacrifícios que envolviam o derramamento de sangue, a imposição de mãos simbolicamente transferia o pecado e a culpa para o animal que morria no lugar do pecador (WIERSBE, 2006, p. 336).

2.3 - Expiatório. O holocausto era uma dádiva que visava ganhar o favor divino para o adorador conforme é indicado na seguinte frase: “[…] para que seja aceito a favor dele, para a sua expiação” (Lv 1.4-b), ficando claro textualmente o propósito de Deus na oferta de holocausto. Esta expiação significa “remissão da culpa através do pagamento ou cumprimento da pena”, nesse caso em particular por meio da morte do animal oferecido (Lv 1.3,9,13,17). 2.4 Provisório e repetitivo. Como já vimos o holocausto era um sacrifício contínuo (Nm 28.1-6; Ez 46.13; Dn 8.11), e embora os sacrifícios descritos em Levítico, tenham sido instituídos por Deus, eles não eram plenos: “nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam […]” (Hb 10.1), pois:

(a) eram repetitivos (Hb 10.11);
(b) não limpavam à consciência (Hb 9.9); e,
(c) não purificavam os pecados (Hb 10.4).

2.5 - Tipológico. Os holocaustos são sombra da disposição de Cristo em entregar a si mesmo (Hb 10.1). O animal inocente simbolizava a perfeição moral demandada pelo santo Deus, bem como a natureza perfeita do real sacrifício futuro, a saber, Jesus Cristo. O animal sacrificado pelos israelitas não apenas acalmava a ira de Deus ou se tornava um substituto para receber punição, mas sobretudo, prenunciava o dia em que o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo (Jo 1.29), morreria e venceria o pecado para sempre (Cl 2.13,14).

III – CARACTERÍSTICAS DO SACRIFÍCIO DE JESUS COMO O HOLOCAUSTO PERFEITO
3.1 - Voluntário. Jesus não foi forçado a ir à cruz. Ele não foi à cruz contra sua vontade. Ele mesmo disse: “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai” (Jo 10.17,18). A morte de Cristo não deve ser considerada como um acidente, mas algo intencional, como demonstração do Seu eterno amor pela humanidade (Jo 3.16; 10.11; Rm 5.6,8,15).

3.2 - Substitutivo. Quando o homem caiu e se afastou de Deus, ficou em débito eterno para com Deus (Cl 2.14). O homem, por si só não poderia resolver seu problema ou pagar sua dívida diante de Deus, a não ser que um “substituto” fosse providenciado, o que está fora do alcance do homem conseguir. Essa atividade, dentro da Teologia, é chamada de “expiação vicária”, que pode ser entendida como “substituição penal” (2Co 5.14, 15,21). A Bíblia ensina que os sofrimentos e a morte de Cristo foram vicários por todos os homens, pois Ele tomou o lugar dos pecadores, e que a culpa deles lhes foi “imputada” e a punição que mereciam foi transferida para Ele (Lv 1.2-4; 16.20-22; 17.11; Is 53.6,12; Mt 20.28; Mc 10.45; Jo 1.29; 11.50; Rm 5.6-8; 8.32; 2Co 5.14,15,21; Gl 2.20; 3.13; 1Tm 2.6; Hb 9.28; 1Pd 2.24) (RYRIE, 2017, p. 331).

3.3 - Expiatório ou Propiciatório. Deus demonstra sua justa ira para com o pecado (Jo 3.36; Rm 1.18-32; Ef 2.3; 1Ts 2.16; Ap 6.16; 14.10,19; 15.1,7; 16.1; 19.15), de forma que, qualquer que seja a atitude desse Deus absolutamente Santo contra o pecado, é completamente justo e aceitável, pois, devido a seu caráter Santo, não pode deixar impune o mal, nem tão pouco fingir que ele não existe, ou que não tem importância. Contudo, em Cristo por meio do seu perfeito sacrifício, é providenciada uma oferta “propiciatória” e assim a ira de Deus contra o pecado é apaziguada (Rm 3.25; 1Jo 2.1-2; 4.10 cf. Êx 25.17-22; Lv 16.14.15) (CHAFER, 2010, p. 99). A palavra propiciação significa: “aquilo que propicia, isto é, torna favorável”. O pecado separa o homem de Deus (Is 59.2; Rm 3.23; Ef 2.1-3), mas Jesus, o nosso cordeiro, morreu para tirar o pecado (Jo 1.29;1Jo 3.5) e, por causa dessa propiciação, a ira de Deus se retirou (Is 12.1-3) e aquele que crer em Jesus é livre de toda a culpa diante da Lei. Deus nos concedeu um sinal de sua aprovação a esta propiciação: na hora da morte de Jesus, o véu do templo se rasgou de alto abaixo (Mt 27.51). Assim, Deus mostrou que Jesus abriu um “novo e vivo caminho” (Hb 10.20).

3.4 - Redentor. A redenção é mais um aspecto do sacrifício de Cristo sobre a cruz, que é ligado ao pecado e restrito em seu significado. Como substituição tem o sentido de assumir a culpa, já a redenção tem sentido de pagar essa culpa assumida. Ou seja, a redenção é aplicada no que diz respeito ao pecado e o débito que ele causa, que pode apenas ser pago com sangue (Hb 9.22 cf. Lv 17.11). Logo, para que o preço de pecado pudesse ser pago, era necessário derramamento de sangue de um cordeiro sem máculas (Jo 1.29; cf. Is 53.9; 1Pd 2.21-22). A ideia expressa nesse contexto é de prover liberdade através do pagamento de um resgate (Rt 3.9; Os 3.15; Is 43.3,10-14). Cristo é o Redentor da raça humana e a ideia expressa é de comprar (Mt 13.44, 46; 14.15; Mc 6.36; Lc 9.13; cf. Gn 41.57, 42.5,7; Dt 2.6). “Por que fostes comprados por preço […]” (1Co 7.23). A ideia presente neste texto aponta para uma compra de alto valor. Assim, podemos concluir que essa compra implicou no pagamento de um preço alto (1Pd 1.18,19), que é o sangue do próprio Messias (Ap 5.9,10). Assim, por meio do pagamento, o redimido é desatado e está livre (CHAFER, 2010, vol.3, p. 99).

3.5 - Único e eficaz. Os sacrifícios de animais precisavam ser repetidos, mas Jesus Cristo ofereceu a si mesmo uma só vez (Hb 7.26,27). Por fim, os sacrifícios de animais não poderiam jamais apagar, pois, seu sangue apenas “cobriria” o pecado até que o sangue de Cristo “tirasse o pecado do mundo” (Jo 1.29). Seu sacrifício purifica a consciência (Hb 9.14); e uma vez que Cristo é “sem mácula”, pôde oferecer o sacrifício perfeito (Hb 10.10,14,18); de maneira que quando Jesus morreu na cruz, como oferta pelos nossos pecados, o véu do templo foi rasgado de alto a baixo (Mt 27.51; Mc 15.38; Lc 23.45), ficando por meio de Cristo aberto o acesso a Deus (Hb 9.1-14; 10.19-22). Contrastando o acesso limitado a Deus que os israelitas tinham por meio do sistema sacrificial Levítico, Cristo, ao dar sua vida por nós como sacrifício perfeito, abriu o caminho para a própria presença de Deus e para o trono da graça (Hb 4.16).

CONCLUSÃO
O Senhor Jesus Cristo realizou muitas obras, porém, a obra suprema que Ele consumou foi a de morrer pelos pecados do mundo (Mt 1.21; Jo 1.29). O evento mais importante e a doutrina central da salvação, resumem-se nas seguintes palavras: “[…] Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” (1Co 15.3).

REFERÊNCIAS
CHAFER, Lewis Sperry, Teologia Sistmática. HAGNOS.
OLIVEIRA, Oséias Gomes. Concordância Bíblica Exaustiva Joshua. Vol. 02. CENTRAL GOSPEL.
RYRIE, Charles. Teologia Básica. MUNDO CRISTÃO.
TENNEY, Merril C. Enciclopédia da Bíblia. Vol 3. EDITORA CULTURA CRISTÃ.
VINE, W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do Antigo Testamento. PDF.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

LIÇÃO 08 – A SOBRIEDADE NA OBRA DE DEUS - (Lv 10.8-11; 1 Tm 3.1-3) 3º TRIMESTRE DE 2018


Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
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LIÇÃO 08 – A SOBRIEDADE NA OBRA DE DEUS - (Lv 10.8-11; 1 Tm 3.1-3)
3º TRIMESTRE DE 2018

INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos as definições etimológica e exegética da palavra sobriedade; pontuaremos as consequências dos problemas sociais, físicos e psíquicos do alcoolismo; e por fim, analisaremos as principais palavras para vinho no Antigo e Novo Testamento e suas respectivas aplicações.

I – DEFINIÇÃO DE SOBRIEDADE
1.1 - Definição etimológica da palavra sobriedade. Segundo o dicionarista Antônio Houaiss (2001, p. 2594), sobriedade é: “qualidade, condição ou estado de quem é sóbrio; moderação no comer ou beber; estado ou condição de quem não se encontra intoxicado por bebida alcoólica; temperança; equilíbrio, prudência; seriedade; caráter sereno; recatado”.

1.2 - Definição exegética da palavra sobriedade. As expressões gregas “nephalios, nephomen, nephalioi” referem-se à sobriedade e também são usadas para identificar uma vida abstêmia (pessoas que não ingerem bebidas alcoólicas), moderada e equilibrada (1Ts 5.6-8 ver ainda Rm 12.3; 1Tm 1.5; 2Tm 1.7). O termo “nepho” significa “ser livre da influência de agentes tóxicos”. O adjetivo “nephalios” foi usado por autores contemporâneos de Paulo como Filo e Josefo para denotar abstinência ao vinho. O termo no grego é “sophron” denotando: “equilíbrio, autodomínio, moderação, prudência” (VINE, 2002, p. 997).

II – UMA VISÃO SECULAR SOBRE O ALCOOLISMO
Cientificamente já se comprovou que o consumo de qualquer bebida alcoólica não traz nenhum benefício a saúde. Vejamos duas dependências provocadas pelo alcoolismo:

2.1 - O alcoolismo e os problemas sociais. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2012, 15% das mortes mundiais decorrentes de acidentes de trânsito estão relacionadas ao álcool. No Brasil, estima-se que 18% dos acidentes de trânsito entre homens foram causados pelo uso de bebidas alcoólicas e, destes, 5,2% por mulheres.

2.2 - O alcoolismo e os problemas físicos. Segundo a OMS não há vantagem bioquímica alguma em consumir álcool e existem várias doenças e prejuízos decorrentes do uso do álcool tais como: 22% dos suicídios; 22% violência interpessoal; 22% câncer no estômago; 30% câncer de boca e garganta; 12% tuberculose; 10% câncer de intestino; 8% das doenças cardíacas; 8% câncer de mama; 12% câncer na laringe; 23% pancreatite; 50% cirrose hepática; e 100% síndrome alcoólica fetal (BAPTISTA, 2018, p. 124 – grifo e acréscimo nosso). Os maiores médicos especialistas atuais em defeitos congênitos citam evidências comprovadas de que o consumo mesmo que moderado de álcool danifica o sistema reprodutivo das mulheres jovens, provocando abortos e nascimentos de bebês com defeitos mentais e físicos incuráveis.

2.3 - O alcoolismo e os problemas psíquicos. Ainda segundo a OMS o alcoolismo como a terceira causa de morte no mundo e define como droga toda a substância que, sendo introduzida no organismo, pode modificar uma ou mais funções, alterando o sistema nervoso com a introdução da dependência física e/ou psíquica do indivíduo […] Outros dados da OMS apontam o alcoolismo como a terceira causa de morte no mundo. Pesquisas de 2015 indicam que no Brasil a cada 36 horas um jovem morre vítima do consumo abusivo do álcool (BAPTISTA, 2018, p. 124).

III - A BEBIDA NO ANTIGO TESTAMENTO
Na Bíblia verificamos que a bebedeira e outros vícios são vistos como atos pecaminosos (Is 5.11,12; 28.1,7). O uso do álcool resulta em situações danosas e constrangedoras para a família (Pv 20.1; 23.21,31,32; 31.4,5; Os 4.11; Lc 21.34; Ef 5.18; 1Co 6.10). Vários versículos no AT encorajam as pessoas a que se mantenham longe do álcool (Lv 10.9; Nm 6.3; Dt 14.26; 29.6; Jz 13.4,7,14; 1Sm 1.15; Pv 20.1; 31.4,6; Is 5.11,22; 24.9). No AT existem diversas palavras para designar “vinho”. Notemos:

3.1 - O AT e a bebida forte. A expressão “bebida forte” vem da palavra hebraica “shekar” e dos 21 textos do AT que mencionam “shekar”, 19 o condenam firmemente o uso desta bebida (Lv 10.9; Nm 6.2,3; Jz 13.3,4; Dt 29.5,6). Os profetas eram especialmente vigorosos em sua condenação desta bebida. Isaías a menciona oito vezes, e cada referência é firmemente negativa (Is 5.11; 24.9; 28.7; 29.9). O profeta Miqueias também falou sobre o seu uso (Mq 2.11), bem como o profeta Habacuque menciona seus efeitos negativos (Hc 2.15,16). Este tipo de bebida nunca foi aprovada por Deus (Lv 10.9-11; Jz 13.4-7; Pv 31.4; Nm 6.3; Pv 23.29-35) (STAMPS, 1995, p. 241 – grifo e acréscimo nosso).

3.2 - O AT e o vinho fermentado. O vinho fermentado (alcoólico) no hebraico é chamado de “yayin”, palavra comum para vinho envelhecido e, portanto, intoxicante. O uso deste vinho sempre foi motivo para práticas ilícitas (Gn 9.20-29; 19.31-38). Por isso, o sacerdote deveria afastar-se da bebida alcoólica (Lv 10.9-11). O AT mostra oito casos de embriaguez com esta bebida que terminaram em desastre familiar: Noé (Gn 9.21); Ló (Gn 19.32-35); Nadabe e Abiú (Lv 10.1-11); Nabal (1Sm 25.36,37); Urias (2Sm 11.13); Amnon (2Sm 13.28); Belsazar (Dn 5.1-3); e Assuero (Et 1.1-10). Salomão descreve os efeitos físicos imediatos desta bebida como: brigas, ferimentos, ais e tristezas (Pv 23.29-35). Em outro lugar, se refere ao vinho como produzindo pobreza (Pv 21.17), violência (Pv 4.17), e alvoroço (Pv 20.1). Isaías adiciona que ele engana a mente (Is 28.7), inflama uma pessoa, e conduz ao esquecimento de Deus (Is 5.11, 12), e ainda associa o vinho com a aceitação de suborno (Is 5.22,23). Amós combinao com a profanação (Am 2.8) (STAMPS, 1995, p. 241).

3.3 - O AT e o vinho não fermentado. Outra palavra é “tirosh”, com o significado de “vinho novo”, refere-se à bebida exclusivamente não-fermentada ou suco novo da uva (Dt 11.14; Pv 3.10; Jl 2.24). Esta palavra aparece cerca de 38 vezes no AT sempre referindo-se ao vinho não-fermentado, onde “tem benção nele” (Is 65.8). Nas Sagradas Escrituras, este tipo de vinho, com o pão e o azeite, é visto como bênção de Deus (Os 2.22). A Bíblia faz uma referência quanto ao uso deste vinho pelos sacerdotes (Is 28.7-8). Em sua oferta de manjares ao Senhor, os israelitas faziam-lhe também a libação de um quarto de him de vinho (Lv 13.13). Vários textos que se referem a “tirosh” como o produto da vide (Mq 6.15; Is 2.8; 65.8; Pv 3.10; Jl 2.24; Mq 6.15; Os 9.2). Só um texto sugere indiretamente que “tirosh” pode produzir fermentação (Os 4.11) (STAMPS, 1995, p. 241).

IV – A BEBIDA NO NOVO TESTAMENTO
A Bíblia condena a embriaguez e o alcoolismo com veemência e aos salvos se ordena que não permitam que seus corpos sejam “dominados por coisa alguma” (1Co 6.12, 2Pe 2.19). Paulo colocou no mesmo nível de condenação eterna os bêbados, os devassos, os idolatras, os homossexuais, e os ladrões os quais não herdarão o Reino de Deus (1Co 6.9-10; Rm 13.13; 1Pe 3.3-5). O cristão não deve ingerir vinho, cerveja, champanhe, whisky ou qualquer outra bebida mesmo que seja “considerada leve”, mas, deve “afastar-se da aparência do mal” (1Ts 5.22; 1Pe 3.11).

4.1 - Jesus e o uso do vinho. No NT o primeiro milagre realizado por Jesus é a transformação da água em vinho (Jo 2.1-11), daí muitos utilizam-se levianamente dessa passagem bíblica para justificar que o consumo do álcool não contraria a Palavra do Senhor, bem como o texto de Lucas 7.33,34. Na Santa Ceia Jesus tomou “do fruto da vide” do grego “gleukos”, indicando tratar-se do suco de uva nova (Mt 26.29; Mc 14.25; Lc 22.18). Se Jesus tivesse usado vinho fermentado (alcoólico) a palavra grega seria “oinos” (por mais que esta palavra em alguns poucos casos também se refira ao vinho não embriagante dependendo do seu contexto). A lei da Páscoa (Êx 12.14-20) proibia durante a semana daquele evento, a presença de fermento tanto no vinho quanto no pão, pois o fermento é o símbolo do pecado nos tempos bíblicos (Mt 16.6-12; 1Co 5.7,8). Logo, assim como o pão representava o corpo puro de Cristo e o vinho representa o sangue incorruptível de Cristo, só pode ser representado pelo suco de uva não fermentado (1Pe 1.18,19). No AT bebidas fermentadas nunca deviam ser usadas na casa de Deus, e um sacerdote não podia chegar-se a Deus em adoração se tomasse qualquer líquido embriagante (Lv 10.9). Jesus é o grande Sumo Sacerdote do novo concerto (Hb 3.1; 5.1-10) e cumpriu a lei em todas as suas exigências (Mt 5.17), então imaginar o próprio Jesus quebrando esta orientação divina é no mínimo incoerência e apelação teológica.

4.2 - Paulo e o uso do vinho. Quando o assunto do vinho é apresentado na Bíblia, o primeiro texto que aparece e que vem à mente de alguns é de 1Timóteo 5.23, onde Paulo aconselha a Timóteo dizendo: “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades”. A cautelosa precaução da linguagem do apóstolo é muito significante, pois é mais uma prescrição de um médico a um paciente do que um princípio geral para todas as pessoas. Paulo ainda recomendou: “não dado ao vinho[…]” (1Tm 3.3 ver ainda 1Tm 3.8; Tt 1.7, 2.3). Uma poderosa indicação bíblica contra o vinho intoxicante é encontrada em Efésios onde Paulo admoesta os efésios dizendo: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). A passagem consiste de duas importantes declarações postas em contraste (antítese) para cada uma: “embriagueis com vinho” contra “enchei-vos do Espírito”. Aqui ele não se refere apenas ao efeito entorpecente do vinho, mas a embriaguez por qualquer tipo de bebida. O posicionamento do apóstolo a respeito da bebida alcoólica é taxativo: é pecado usar bebida alcoólica, pois a Bíblia não faz concessão à bebedice (1Ts 5.6; Tt 2.2 ver ainda Lc 12.45,46; 1Pe 1.13; 4.7;5.8) (BACCHIOCCHI, 1989, p. 248).

4.3 - Timóteo e o uso do vinho. As Escrituras não fazem concessão nenhuma à bebedice, por isso, Paulo disse que o bispo cristão deveria ser abstinente ou abstêmio “nephalion” (1Tm 3.2-3). É razoável assumir que o apóstolo não poderia ter instruído a Timóteo para requerer abstinência dos líderes da igreja sem primeiro ensiná-lo com tal princípio. A abstinência de um ministro cristão era baseado, presumivelmente, na legislação do AT que proibia os sacerdotes de usarem bebidas intoxicantes (Lv 10.9- 10). O ministro cristão não deveria ser menos santo que um sacerdote judeu (Lv 10. 10-11). Há indício históricos que atestam o uso externo de vinho não fermentado para propósitos terapêuticos para curar ferimentos (Lc 10.33,34) e também para purificar água contaminada com resíduos dos jarros de argila (1Tm 5.23).

4.4 - Os gregos e o uso do vinho. Homero (VIII a.C.) menciona uma proporção de vinte partes de água para uma parte de vinho como sendo o ideal para consumo. Aristóteles (384-322 a.C.) só recomendou o uso de um doce suco de uva chamado “glukus” se fosse não fermentado porque disse ele: embora chamado vinho ele não tem o efeito do vinho e não é intoxicante. Ateneus (280 d.C.), aconselhou especificamente o uso de suco de uva não fermentado para doenças estomacais: Deixai-o tomar um vinho doce misturado com água ou aquecido, especialmente aquele tipo chamado “glukus”, como sendo bom para o estômago; pois o vinho doce (não fermentado) não torna a cabeça pesada. Outra advertência relativo ao uso do vinho como terapêutico é dado por Plínio (79 d.C.), um contemporâneo de Paulo. Ele recomenda o uso de um vinho não fermentado, fervido chamado “adynamon” por pessoas doentes (BACCHIOCCHI, 1989, p. 248).

CONCLUSÃO
Concluímos que todos os salvos são feitos reis e sacerdotes de Deus, pertencentes ao reino espiritual de Deus (1Pe 2.9). Logo, o padrão de Deus para os reis e sacerdotes do AT quanto a não ingerirem bebidas embriagantes é igualmente aplicável a todo crente (Nm 6.1-3; Ef 5.18). Quanto ao uso do vinho, sigamos o exemplo dos recabitas que voluntariamente, abstinham-se de qualquer bebida forte para que a aliança de seus ancestrais permanecesse firme. E, por causa de sua fidelidade, foram honrados pelo Senhor (Jr 35.6-10).

REFERÊNCIAS
LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. CPAD.
HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
BACCHIOCCHI, Samuele. Vinho na Bíblia: um estudo bíblico sobre o uso de bebidas alcoólicas. CPEW.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

LIÇÃO 07 – FOGO ESTRANHO DIANTE DE DEUS - (Lv 10.1-11) 3º TRIMESTRE DE 2018


Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco
Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais
Pastor Presidente: Aílton José Alves
Av. Cruz Cabugá, 29 - Santo Amaro - Recife-PE / CEP. 50.040.000 Fone: 3084.1524 / 3084.1543

LIÇÃO 07 – FOGO ESTRANHO DIANTE DE DEUS - (Lv 10.1-11)
3º TRIMESTRE DE 2018

INTRODUÇÃO
Arão e seus filhos foram separados para o sacerdócio. No entanto, apesar de tamanho privilégio, Nadabe e Abiú cometeram grande pecado contra Deus desonrando-o no exercício do ministério sacerdotal, e, por causa desta atitude profana, eles foram punidos com a morte. Esta história serve como advertência para a igreja nos dias atuais.

I – ARÃO E SEUS FILHOS FORAM CHAMADOS PARA O SACERDÓCIO
Arão e seus quatro filhos foram separados para o ministério sacerdotal (Êx 28.1). O sacerdócio era uma instituição divina (Hb 5.4-a); uma grande honra dada por Deus ao homem (Hb 5.4); e, uma grande responsabilidade (Lv 8.35). Abaixo destacaremos alguns detalhes sobre os dois primeiros filhos de Arão. Vejamos:

1.1 - Quem foi Nadabe. Este foi o filho primogênito de Arão com sua esposa Eliseba (Êx 6.23; Nm 26.60). Seu nome no hebraico significa: “disposto”. Foi chamado para o sacerdócio (Êx 28.1). Teve o privilégio de junto com os anciãos contemplar a glória de Deus (Êx 24.1-9).

1.2 - Quem foi Abiú. Este foi o segundo filho de Arão com sua esposa (Êx 6.23; Nm 3.2; 1 Cr 6.3; 24.1). Seu nome no hebraico significa: “Deus é Pai”. Foi chamado para o sacerdócio (Êx 28.1). Também teve o privilégio de junto com os anciãos contemplar a glória do Deus de Israel (Êx 24.1-9).

II - O PECADO DE NADABE E ABIÚ
Logo após a consagração de Arão e seus filhos para o sacerdócio (Lv 8.1-36), oito dias depois eles contemplaram a glória de Deus (Lv 9.1-24). No entanto, logo em seguida os filhos de Arão: Nadabe e Abiú cometeram um pecado contra Deus (Lv 10.1-7). O Livro de Levítico nos mostra que eles “ofereceram fogo estranho perante o SENHOR” (Lv 10.1-b). Há vários elementos neste procedimento que violavam todas as instruções para o sacrifício que Moisés recebeu da parte de Deus. Vejamos:

2.1 - Um pecado de ordem litúrgica. O culto levítico tinha uma liturgia devidamente orientada por Deus. O sacerdote devia comparecer perante o Senhor no tempo aprazado, pela manhã e a tarde, para oferecer incenso (Êx 30.7); apenas um ministro e não dois de uma vez (Êx 30.7; Lc 1.8,9). Nadabe e Abiú erraram porque foram juntos (Lv 10.1).

2.2 - Um pecado de ordem cúltica. O sacerdote havia sido ordenado a queimar o incenso com brasas tiradas do altar de bronze (Lv 9.24; 16.12), porém Nadabe e Abiú forneceram fogo de outra fonte, e Deus o rejeitou (Lv 10.1). A expressão para “fogo estranho”, isto é, fogo comum, não-fogo de origem celestial. Talvez uma possível alusão a um fogo externo que não procedia do altar e que não tinha sido aceso por Deus (Lv 9.24). Também tinha sido advertidos de não oferecem um incenso estranho, ou seja, que não tivesse os ingredientes exigidos por Deus (Êx 30.9,34-38).

2.3 - Um pecado de ordem moral. Em seguida da punição dada aos sacerdotes Nadabe e Abiú, o registro bíblico nos mostra uma advertência de Moisés para aos sacerdotes quanto a uso do vinho, dando a entender que estes filhos de Arão procederam de forma equivocada no culto a Deus, porque estavam sob a influência do álcool (Lv 10.8-11). Eles não santificaram ao Senhor com o seu procedimento e por isso foram punidos com a morte (Lv 10.2,3).

III – A MORTE DE NADABE E ABÍU
Apesar da alegria e da honra que assinalaram o início dos serviços sacerdotais descritos em Levítico 9.23,24, por parte de Arão e seus descendentes, estes foram manchados pelo ato imprudente de Nadabe e Abiú, filhos mais velhos de Arão, os quais contaminaram o tabernáculo ao efetuarem um rito que não concordava com as instruções elaboradas dadas por Deus. O ato aos olhos de Deus foi merecedor do castigo da morte. Não se sabe exatamente como o fogo matou Nadabe e Abiú, ou se a palavra “fogo” era um sinônimo para um raio de relâmpago (Êx 9.23; Jó 1.16). O mesmo poder que havia abençoado (Lv 9.23,24) agora tirava a vida (Lv 10.2).

3.1 - Morreram tragicamente. Quando compareceram perante o Senhor de forma inadequada, Nadabe e Abiú foram mortos tragicamente (Lv 10.2). Arão e seus outros filhos Eleazar e Itamar foram impedidos de fazer luto pelos irmãos falecidos, porque Deus havia advertido que havia fulminado estes dois jovens, por que não honraram o Seu Nome (Lv 10.3). Se chegassem a lamentar assim por seus irmãos mortos, dando a entender que não concordavam com o severo juízo que haviam recebido, também morreriam (Lv 10.6,7).

3.2 - Morreram prematuramente. Estes jovens sacerdotes tinham toda uma vida para servir ao Senhor na beleza da Sua santidade, visto que o sacerdócio era vitalício, no entanto, eles tiveram sua existência abreviada por causa da rebeldia a Palavra do Senhor (Lv 10.1,2).

3.3 - Morreram sem deixar descendentes. Nem Nadabe e nem Abiú tinham filhos, pelo que a sucessão sacerdotal continuou através de seus irmãos mais novos: “Mas Nadabe e Abiú morreram perante o SENHOR, quando ofereceram fogo estranho perante o SENHOR no deserto de Sinai, e não tiveram filhos; porém Eleazar e Itamar administraram o sacerdócio diante de Arão, seu pai” (Nm 3.4).

3.4 - Morreram vergonhosamente. A morte destes dois filhos de Arão, por causa da desobediência, ficou na memória da sua geração e das gerações posteriores, sendo um ato vergonhoso e de advertência para que outros não caíssem no mesmo erro (Nm 26.60,61; 1 Cr 24.2).

IV – UMA ADVERTÊNCIA PARA A IGREJA
Os fatos que ocorreram no Antigo Testamento além de nos fornecer informações, foram escritos para aviso nosso, como afirmou o apóstolo Paulo (1 Co 10.11). A palavra “aviso” no grego é “nouthesia”, que significa: “admoestação”, “instrução”, “aviso”, que é utilizada tanto no sentido positivo quanto negativo, ou seja, uma atitude que pode ser reproduzida ou evitada” (CHAMPLIN, 1995, p. 396). Portanto, tanto os bons exemplos quanto os maus exemplos de personagens das Escrituras também foram registrados para nos trazer advertências. Mas, quais as advertências que podemos extrair do caso de Nadabe e Abiú como ensino para a nossa vida? Vejamos:

4.1 - O perigo da falta de santidade no serviço ao Senhor. Deus exige um comportamento santo de todo aquele que professa o Seu nome (1Ts 4.7; Tt 2.12; Hb 12.14; 1Pe 1.15,16). Muito mais se espera daqueles que exercem alguma função na obra de Deus, pois a santidade é um pré-requisito fundamental para o serviço (Êx 18.21; Is 6.5-7; Jr 1.5; At 6.3; 2 Pe 1.21). Portanto, falta de santidade torna qualquer pessoa inapta para cooperar na obra de Deus (Lv 10.1-3; At 1.16-20).

4.2 - Abuso no uso dos dons espirituais. Infelizmente não são poucas as pessoas que abusam dos dons espirituais, cometendo excessos, ou imitando as manifestações de Deus, apresentando-se com “fogo estranho” diante do Senhor. Por isso, metaforicamente, “fogo estranho passou a indicar aquele fervor, zelo, sistema religioso e práticas místicas e religiosas que são estranhas ao cristianismo bíblico” (CHAMPLIN, 2004, p. 509). Notemos:

4.2.1 - No Antigo Testamento. Moisés preveniu o povo dizendo que os falsos profetas deveriam receber como punição a morte (Dt 13.1-5). Deus repreendeu severamente os falsos profetas e os sonhadores mentirosos (Jr 23.32; 27.15; 29.9). Pedro nos diz que os profetas verdadeiros não produziram por si mesmos a profecia, mas falaram inspirados pelo Espírito Santo (2 Pd 1.21).

4.2.2 - No Novo Testamento. A igreja de Corinto era abundante nos dons espirituais (1 Co 1.7). No entanto, havia muitos excessos no uso deles. E, isto levou o apóstolo Paulo a trazer informação e orientação sobre o correto uso dos dons (1 Co 12-14), dizendo que:

(a) não podemos nos julgar superiores aos outros por causa de alguns dons, pois todos procedem do Espírito e tem a devida utilidade (1 Co 12.12-27);
(b) que não podemos utilizar os dons sem o fruto do amor, pois os dons são temporais, mas o amor é eterno (1 Co 13.1-13);
(c) que a manifestação dos dons deve estar subordinada a Palavra e não o contrário (1 Co 14.37); e,
(d) nenhuma pessoa tem o controle dos dons do Espírito Santo, pois Ele é quem dá a cada um como quer (1 Co 12.11); e, manifesta quando quer (1 Co 12.7).
Eis algumas outras advertências que devemos procurar praticar no uso dos dons:

-Zelar pelos dons – “Portanto, procurai com zelo os melhores dons [...]” (1 Co 12.31).
-Ter autodisciplina nos dons – “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (1 Co 14.32);
-Ter decência e ordem no exercício dos dons – “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (1 Co 14.40).

4.3 - Inovações no culto ou na liturgia. Deus deu um culto a Israel (Rm 9.4; Hb 9.1); e, este culto tinha uma liturgia divina instruída (Êx 25.9; Lv 1-4). Portanto, proceder de forma diferente consistia numa afronta a Deus (2 Sm 6.3-8; 1 Cr 15.1,2; 2 Cr 26.19; Ml 1.7-8). Paulo orientou que o culto ao Senhor também deveria seguir uma liturgia decente ordeira (1 Co 14.26), pois Deus é Deus de paz e não de confusão (1 Co 14.33).

4.4 - Profanação das coisas sagradas. Os filhos de Eli tratavam as coisas sagradas como coisa qualquer (1 Sm 2.12-17; 28,29), e por isso foram severamente punidos (1 Sm 2.34). Paulo orientou que os cristãos de Corinto deveriam se comportar na Ceia com a consciência de que o pão e o vinho simbolizavam o corpo e o sangue do Senhor (1 Co 11.20-26). O apóstolo ensinou que comer indignamente, ou seja, não dando a devida consideração ao que é sagrado, resultaria em punições (1 Co 11.27-30). Lembremos que Deus é um fogo consumidor (Hb 12.29); e que o seu juízo começa pela Sua casa (1 Pe 4.17).

CONCLUSÃO
A trágica morte de dois filhos de Arão, Nadabe e Abiú nos servem de exortação quanto ao cuidado que devemos ter com a nossa vida moral e com o serviço sagrado. Deus não deixará impune aqueles que se portam de maneira leviana, desonrando o Seu santo e bendito Nome.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. HAGNOS GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. VIDA.
HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

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